Ato contra cultura do estupro reúne 5 mil mulheres

Em intervenção, manifestantes resgataram memória das mulheres vítimas de estupro

Por SENGE-RJ

 

Foto: Fernanda Ramos

 

Cerca de 5 mil mulheres foram para as ruas no Centro do Rio no dia 1º de junho pelo fim da cultura do estupro. O protesto ocorreu por conta do caso recente de uma adolescente de 16 anos que foi estuprada por 33 homens na Zona Oeste do estado. As manifestantes se reuniram às 16h na Candelária, e às 18h seguiram pela Avenida Presidente Vargas em direção à Central do Brasil. Outros 15 estados também tiveram atos sobre o tema, em cerca de 50 cidades.

No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, segundo o 9º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2015. Mas os dados oficiais são muito inferiores ao número total de casos de violência sexual. A Pesquisa Nacional de Vitimização (2013) verificou que, no Brasil, somente 7,5% das vítimas de violência sexual registram o crime na delegacia. Já o IPEA estimou que 10% dos casos sejam notificados. O dado faz parte da nota técnica “Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde”, divulgado em 2014. Em nota, a Fisenge avalia que a subnotificação desse tipo de crime ocorre porque as mulheres têm medo e vergonha de denunciar. “Alguns dos fatores para a subnotificação são a violência institucional dentro das delegacias e a condenação das vítimas”, justifica.

 

Cultura do estupro 

A Fisenge também se posicionou contra a cultura do estupro, amplamente denunciada no ato do dia 1º em faixas, cartazes e palavras de ordem das manifestantes. “A cultura do estupro se manifesta em violências físicas e simbólicas, como a naturalização de tais práticas”, afirma a entidade. O questionamento e os ataques à vida pessoal das vítimas, assim como a proteção dos agressores, são alguns reflexos dessa cultura, conforme explica a Fisenge.

Para Ana Beatriz Sacramento, estudante de jornalismo na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a cultura do estupro é ainda mais violenta em relação às mulheres negras. “Temos 3 vezes mais possibilidade de ser estupradas dos 19 aos 24 anos justamente pela hipersexualização da nossa imagem na sociedade, na televisão, com personagens como a Globeleza.” Ana é militante do movimento feminista “Me avisa quando chegar”, criado para organizar as estudantes da Rural contra os casos recorrentes de estupro que ocorrem dentro da universidade. O grupo já recebeu mais de 600 denúncias de violência sexual, e seguem cobrando soluções por parte da reitoria. Os dados oficiais apontam o registro de 28 casos de estupro em 2015 na 48ª DP (Seropédica).

As estudantes da Rural seguem em luto pela morte de Isadora, vítima de violência sexual dentro da universidade e que cometeu suicídio em maio deste ano. Além da violação, ela foi obrigada a conviver diariamente com o seu agressor, que também é aluno. Ao final do ato, as mulheres reunidas na Central fizeram uma intervenção em sua memória e de todas as vítimas de estupros. Elas resgataram o caso da estudante indiana Jyoti Singh Pandey, que faleceu aos 23 anos devido aos ferimentos decorrentes de um estupro coletivo dentro de um ônibus em Nova Délhi. Também mencionaram Danielly Rodrigues, de 17 anos, que morreu após ter sofrido um estupro coletivo no Piauí. Os relatos apresentados falavam sobre vítimas de diversas idades, locais, grupos sociais e profissões, assim como havia vasta pluralidade dos perfis dos agressores, que podem ser familiares, amigos, desconhecidos, homens jovens ou mais velhos.

Nina Simone, cantora negra americana e ativista dos direitos humanos, disse que liberdade, para ela, é não ter medo.  A pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que 67% da população das grandes cidades brasileiras sentem medo de ser vítima de violência sexual. As mulheres são 90% desse total. Mas as 5 mil manifestantes que tomaram a Presidente Vargas nessa quarta-feira já deram o recado: não haverá descanso até que as mulheres não precisem mais temer.

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