Pelo fim da violência simbólica contra a mulher

Simone Baía, engenheira química e diretora da mulher da Fisenge, fala sobre campanha

Simone Baía* 

 

“E se… você fizesse uma dieta, uma plástica ou alisasse o cabelo?”. Estas são algumas formas de expressão de violência simbólica que nós, mulheres, passamos todos os dias. A campanha #primeiroassédio nas redes sociais trouxe à tona diferentes formas de violência contra a mulher. Uma das violências invisibilizadas e naturalizadas pela sociedade é a violência simbólica. Nossos corpos são inseridos em um código de subalternidade e normatividade. Para Pierre Bourdieu, a violência simbólica é o meio de exercício do poder simbólico. Esse sistema de dominação que vem desde o simbólico pode chegar à violência física. Afinal, estamos falando sobre dominação e propriedade de corpos e vidas.

Os principais motores da violência simbólica são a mídia, o próprio Estado e algumas religiões fundamentalistas, que impõem determinados sistemas de crenças, nos quais temos de nos enquadrar. E esses códigos são reproduzidos por homens e mulheres. Nossas crianças negras sofrem todos os dias com o racismo que, praticamente, impõe um cabelo liso e “arrumadinho”. Esse é apenas um dos cenários, pois ainda temos as violências simbólicas sofridas por pessoas gordas, idosas, transexuais, com deficiência, por exemplo.

Nossos corpos são questionados desde a infância, adolescência, maternidade até na 3ª idade. Isso porque vivemos em uma sociedade fundada no patriarcalismo e todas as cobranças e imposições direcionadas às mulheres. A violência simbólica legitima o discurso dominante e as práticas de discriminação. E essas narrativas são reforçadas pela mídia, tanto em seus programas de jornalismo quanto em suas propagandas. Afinal, qual a representatividade das mulheres negras nas novelas? São personagens exercendo papéis de servidão e com corpos objetificados. Na propaganda, o modelo eurocêntrico branco e corpos magros são ditos como o padrão e o saudável. Os meios de comunicação produzem subjetividades alinhadas ao sistema hegemônico, que é capitalista, machista, racista e LGBTfóbico, e tudo isso gera capital simbólico.

Recentemente, o presidente da Câmara dos Deputados apresentou o Projeto de Lei 5069, que dificulta e praticamente impede a mulher a ter acesso à pílula do dia seguinte em casos de estupro. Assim funciona o discurso de dominação, que subalterniza e nega às mulheres  direitos pelo corpo, promovendo práticas misóginas. O país tem uma taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que avaliou um grupo de 83 países.

Para combater essa ofensiva no Parlamento e os discursos de ódio na sociedade, é fundamental o debate de gênero nas escolas. Embora tão temido pelos setores conservadores, é fundamental que esse debate esteja transversalizado na educação. O Enem sinalizou de maneira pedagógica o necessário enfrentamento às narrativas machistas impostas.

Precisamos falar sobre gênero. Precisamos falar sobre machismo. Precisamos falar sobre violências simbólicas e físicas. Apenas com o debate, iremos descortinar silenciamentos de mulheres historicamente oprimidas.

 

Simone Baía é engenheira química e diretora da mulher da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge)

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