Fonte: Brasil de Fato
Por Camilla Hoshino,
De Curitiba (PR)
Os petroleiros de todo o Brasil ultrapassam o quinto dia da greve que atinge diversos setores do sistema Petrobras nacionalmente. Apesar da crescente adesão dos trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais enfrentam forte pressão das empresas contra as mobilizações.
Em Curitiba (PR), a Justiça do Trabalho condenou o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em um interdito proibitório, com multa de R$ 100 mil diários durante as atividades da greve na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada em Araucária. A ação alega que eles estariam invadindo a propriedade da Petrobrás.
Segundo o advogado do Sindipetro, Sidnei Machado, como se trata de uma greve, os trabalhadores estão paralisados em frente à empresa, tentando fazer o convencimento dos demais. “Esta é uma garantia constitucional que eles têm. Portanto, sabemos que não é cabível este tipo de ação. Ela é uma forma de desestimular e constranger os trabalhadores para abandonar a greve”, explica o advogado.
Segurança
Por outro lado, a Petrobras foi condenada pela Justiça a tirar os trabalhadores que estão dentro da empresa em jornada excessiva – alguns há mais de 40 horas -, passível de multa no valor de R$ 20 mil. “É desproporcional, pois a prestação de multa neste caso deve levar em consideração a capacidade econômica das partes. Não se justifica comparar a capacidade econômica dos trabalhadores do MST, por exemplo, com a empresa”, defende Machado.
O diretor da Federação Única dos Trabalhadores (FUP), Silvaney Bernardi, alega que a situação dos trabalhadores que se mantêm dentro da empresa é preocupante. São cerca de 60 pessoas que se revezam para garantir o trabalho. “A empresa recruta supervisores e pessoas que não são da base operacional. Também não há um grupo treinado para compor a brigada necessária para garantir a segurança em casos de incêndios e vazamentos”, afirma. Ele conta que o sindicato se colocou à disposição para compor um grupo de trabalhadores qualificados para assumir a função se ela respeitasse o exercício da greve, reduzindo a produção.
Impacto na produção
Além da Repar, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR) também é alvo da greve no Paraná. Ela foi a primeira unidade da Petrobrás a parar completamente a produção e tem adesão de 95% dos trabalhadores. De acordo com Otêmio Garcia de Lima, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Paraná (Sindiquímica-PR), o cenário impacta diretamente na produção da empresa.
Diariamente, a Fafen-PR deixa de produzir 2 mil toneladas de ureia, utilizada para a fabricação de fertilizantes, para o aumento da produção pecuária e no setor da indústria da beleza, em cremes e maquiagem. Quanto à produção de amônia, são 1.350 toneladas – destas, 800 que são destinadas à produção de ureia pela própria indústria -, que servem como componente químico para fertilizantes e também para a refrigeração de câmaras frias, como frigoríficos. Por último, o impacto cai sobre a produção de ARLA32 – aditivo líquido para caminhões a diesel -, cuja produção diária alcança aproximadamente mil toneladas. Ao todo, o sindicato calcula um prejuízo de R$ 2 milhões por dia.
Além da Repar e da Fafen-PR, todos os terminais da Transpetro se encontram em greve no Paraná e em Santa Catarina. A FUP alega que 25% da produção nacional de petróleo foi reduzida.
Em virtude desse impacto, Lima conta que a empresa tem pressionado os trabalhadores a voltar para a fábrica. “A gerência está ligando para a casa dos trabalhadores e mandando cartas”, afirma. Apesar disso, os grevistas continuam fazendo o convencimento dos colegas e explicando as reivindicações.
Denúncia
Em virtude do clima de tensão e falta de diálogo, cerca de 300 trabalhadores petroleiros e petroquímicos, em conjunto com militantes do MST e da CUT, realizaram nesta quinta-feira (05) uma manifestação em frente à Fafen e à Repar. O ato teve o objetivo de denunciar as atitudes antissindicais das empresas, como o assédio aos trabalhadores para que não apoiem a greve e, no caso da Repar, a retenção de trabalhadores na produção com sobrecarga de trabalho e sem brigada de segurança.
“Estamos deixando de priorizar o debate sobre o acordo coletivo e o reajuste do salário para fazer a luta contra a privatização da empresa”, explica a diretora do Sindipetro, Anacélie Azevedo, ressaltando a pauta política da greve. E acrescenta: “A Petrobrás precisa dominar sua cadeia de produção para que consiga controlar o preço do gás de cozinha, da gasolina, do diesel e por fim exercer o seu dever de garantir um Brasil soberano, forte economicamente e capaz de garantir empregos através de seu negócio”.