A prova do Enem será em outubro e, quanto mais perto vai chegando o dia da prova, os estudos vão se intensificando. No Rio, uma turma vem bombando nos meios de comunicação: o “Prepara, Nem!”. Construído por muitas mãos, o curso é direcionado a transexuais e travestis e todos os professores são voluntários. A cada dia a aula acontece em lugares diferentes, seja em sindicatos ou espaços culturais. A ideia é ocupar o máximo de locais possíveis.
A mineira Luciana Vasconcelos, de 35 anos, é uma das alunas. Travesti negra, ela tem mais do que as matérias escolares para se preocupar. A estudante está com um prazo determinando para sair do abrigo em que mora no centro do Rio. “É preciso que haja a preocupação com as alunas não apenas na sala de aula, mas também na questão da moradia. Porque eu venho assistir aula e vou dormir onde, nos Arcos?”, questiona Luciana, que prestará vestibular para o curso de serviço social.
Além dos dilemas com educação e moradia, a inserção no mercado de trabalho é outra pedra no caminho. Por preconceito e sem avaliar a capacidade de quem se candidata, os empregadores preferem não abrir a oportunidade de trabalho. Como resultado, as pessoas transexuais e travestis têm como única alternativa a prostituição. Luciana virou uma exceção. Ela vai começar essa semana a trabalhar em um restaurante. “Me sinto vitoriosa, mas sei que vou enfrentar outra luta. Quero ser respeitada lá dentro como travesti e ter direito ao meu nome social”, conta.
Sem preconceitos
O “Prepara, Nem!” é um curso acolhedor. Embora seja voltado para travestis e transexuais, o preparatório não impede que participem pessoas cisgêneras, ou seja, aquelas que se identificam com o gênero determinado pela medicina. Por lá, são muitos os sonhos. Bárbara Aires, de 25 anos, vai ser jornalista. Mulher transexual, ela já teve experiência como produtora de televisão. Sobre a luta por direitos, ela pondera que falta acolhimento ainda na escola. “O primeiro passos de todos na educação é preparar os professores para receber as crianças e adolescentes transexuais. Se isso não ocorrer, essa pessoa nunca vai terminar os estudos”, reivindica Bárbara.
Papel da mídia
Para a travesti Indianara Siqueira, uma das organizadoras do “Prepara, Nem!”, os meios de comunicação têm grande influência na luta contra os preconceitos. “Há lugares em que a escola não chega e onde a imprensa se torna fonte de educação. Há pessoas que são até alfabetizadas a partir da mídia. É uma grande responsabilidade. O jornalista tem esse papel de tornar a sociedade mais acolhedora para todas as pessoas que a compõem”, adverte.
Sem apoio do governo
Uma das grandes dificuldades do curso é a manutenção. O transporte e a alimentação para os alunos e alunas são alguns entraves. Como não tem apoio de governos, o preparatório é mantido por doações. O Brasil de Fato RJ fez contato com o programa Rio Sem Homofobia, do governo do estado, e com a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, da Prefeitura do Rio, para questionar sobre os projetos públicos desenvolvidos pelas instituições para contribuir com a formação de pessoas transexuais. Não obtivemos resposta de nenhum dos órgãos até o fechamento da matéria.