Petroleiros cruzaram os braços desde as 0h desta sexta-feira (24) em uma mobilização nacional de 24h contra o novo plano de gestão e negócios da Petrobras e o projeto de lei do senador José Serra (PSDB/SP), para tirar a estatal do papel de única operadora do pré-sal. A greve geral tem caráter de “advertência”, segundo a categoria.
Para José Maria Rangel, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a mobilização atingiu “grande sucesso”, pois os trabalhadores entenderam sua relevância política. “Conseguimos chamar a categoria para dizer que a greve não era por salário. Mas sim para defender a nossa empresa e o país. Essa é a grande vitória do nosso movimento”, afirmou.
Diversas refinarias, terminais e plataformas aderiram à greve geral, que atingiu 13 estados o Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Amazonas.
Rangel também lembrou das mobilizações de 1995, em que os trabalhadores conseguiram evitar a privatização da empresa pelas mãos do governo Fernando Henrique Cardoso e reforçou que a categoria dificilmente escapa de fazer uma greve maior esse ano. “Quem sabe daqui a 20 anos essa greve não fique marcada como a que impediu a entrega do pré-sal”, aponta.
Mudanças na lei
Os petroleiros lutam contra o Projeto de Lei do Senado (PLS) 131, de autoria do tucano José Serra, que retira da Petrobras a função de operadora única do pré-sal e acabar com os 30% de participação mínima que a empresa deve ter nos campos exploratórios.
Um dos principais problemas do projeto, apontados pelos petroleiros, é que ele retira da União grande parte da verba dosroyalties do pré-sal que, por lei, seriam investidos em educação (75%) e saúde (25%). O ministro da educação, Renato Janine Ribeiro, disse, em audiência pública no Senado no último dia 8, que “é importante que aquilo que demorou bilhões de anos para ser constituído [petróleo] não seja queimado à toa e construa estruturas permanentes”.
O coordenador da FUP rebate o argumento dos defensores do projeto de que a Petrobras não teria capacidade de explorar a grande quantidade de petróleo da camada e cita interesses comerciais como pano de fundo para sua aprovação. “A Petrobras extraiu 700 mil barris de petróleo no pré-sal em sete anos, um volume que outras empresas levaram 15 anos para produzir. O projeto do Serra cria um modelo de partilha único no mundo, em que não há nenhuma empresa do estado para controlar e planejar a produção. Isso é justificado, no caso dele, por conta das suas relações com petroleiras internacionais, que já foram tornadas públicas pelo vazamento do Wikileaks”, denunciou.
De olho no lucro
O rumo conservador que a economia brasileira toma, desde a posse de Joaquim Levy como ministro da Fazenda, também não poupou a gestão da Petrobras. Após a saída de Maria da Graça Foster, funcionária de carreira da empresa, o governo foi buscar o seu sucessor no mercado financeiro: se trata do ex-presidente do Branco do Brasil, Aldemir Bendine.
Rangel cita a decisão de a empresa de reduzir o plano de investimento em 40% e um comunicado que a Petrobras soltou para os funcionários, no último dia 22, para mostrar como a nova gestão priorizará a austeridade no próximo período. “O informe diz que ‘o plano de gestão aprovado pelo conselho de administração tem como foco a diminuição do endividamento da companhia e o aumento da rentabilidade com geração de valor para os acionistas`. Em outras épocas, ela dizia que buscaria manter a produção para atender as necessidades da população. Obviamente que o governo tem uma ação direita nessa tomada de iniciativa”, finalizou.
Procurada pela reportagem, a assessoria de José Serra não atendeu o pedido de entrevista. O Brasil de Fato também contatou a Petrobras, que não retornou os questionamentos do repórter até o fechamento da matéria.