Fonte: Carta Maior
Graças a Deus não temos terroristas no Brasil. Se tivéssemos, e se fossem do tipo dos que metralharam os cartunistas do Charlie Hebdo, em Paris, há semanas, algum jihadista revoltado com a charge do último domingo de Chico Caruso, no Globo, talvez resolvesse por em prática sua sugestão: cortar a cabeça, fisicamente, da Presidenta Dilma Rousseff em nome de alguma guerra santa genérica, lembrança do lacerdismo, contra a corrupção, mesmo depois de se tornar público que a Presidenta não foi sequer investigada na Lava Jato.
A liberdade “sem limites” do chargista brasileiro, que se denomina dois em um por causa do irmão gêmeo, é da mesma espécie da dos franceses. Não há nenhuma regra moral, nenhuma regra de conveniência, nenhuma regra de respeito à liberdade do outro que se contraponham ao sagrado direito de livre expressão. A cruzada, não só do Globo mas de toda a grande mídia escrita brasileira, assim como da maioria das televisões, é no sentido de enxovalhar a vida privada e pública dos cidadãos em nome da liberdade de imprensa.
Ah, dizem eles, as pessoas tem o direito de ir à Justiça para reclamar contra injúria, calúnia e difamação praticadas pela imprensa! Mas como, se elas coincidem com a publicação da ofensa? Além disso, na maioria dos casos, a Justiça se sente intimidada pelo poderio dos jornais, revistas e televisões, que se protegem reciprocamente quando não entram em cadeia privada para denegrir a imagem de alguém ou quando, como nesse caso, chegam à beira da própria exaltação do terrorismo? Não seria o da imprensa o verdadeiro terrorismo?
Tenho mais de 35 anos de jornalismo e jamais vi, exceto às bordas de 64, neste caso pela ação extremada de ação e reação ao lacerdismo, uma situação política tão exacerbada. A culpa é exclusivamente da imprensa. Depois dos anos de chumbo da ditadura – que durante muitos anos, por orientação de um livro de Fernando Henrique, chamei “carinhosamente” de autoritarismo -, a imprensa se posicionou crescentemente do lado oposto, num movimento dialético pendular da história, caracterizado por extremos dos dois lados.
Creio que chegamos ao momento da síntese que é o resultado de uma interação dinâmica entre opostos. Momentos como esse costumam ser caóticos. Na Teoria do Caos, ou pela Segunda Lei da Termodinâmica, a superação de situações como esta implica a completa degeneração do velho. Em outras palavras, é o momento da depuração do Executivo, do Legislativo e, por que não, do Judiciário. Os dois primeiros já estão sendo depurados; no caso do Judiciário, convém apoiar a iniciativa do Senador Renan para uma CPI do Ministério Público.
O jihadista que, pela mão de Chico Caruso, pretendeu degolar Dilma, não representa o povo brasileiro. Ela, como todo mundo, tem pontos fracos e fortes. No curto prazo, enquanto Presidenta eleita legitimamente, ela terá de se valer de todos os seus pontos fortes para tirar o Brasil do caos. Acho que tem competência para isso. E é o que vamos demonstrar, no dia 13, na Cinelândia, e estendendo-se até a Av. Chile, num comício em defesa da Petrobrás, da Engenharia Nacional e de uma política verdade de cunho social-desenvolvimentista.
A propósito, antes de terminar: onde estavam os irmãos Caruso quando Dilma era torturada de verdade nos porões da ditadura militar? Estavam aprendendo a desenhar? Ou estariam ensinando desenho para quem fez a legenda da camiseta de Luciano Huck, “vem nimim que tô facim”, exibida publicamente por uma menina de uns 12 anos no seu programa da Globo – num caso que, se não fosse de gente dela, a Globo descreveria como exaltação da pedofilia? Será que essa TV tem dono para responder por isso? Se tiver, vale a pena aplicar nele a jurisprudência nazista do “domínio do fato”, invocada por Joaquim Barbosa e tão exaltada pela Globo no caso do mensalão!
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J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia da Produção pela Coppe/RJ, autor de mais de 20 livros sobre Economia Política, sendo o mais recente “A Razão de Deus”, pela Civilização Brasileira.