“Hoje e muito menos amanhã, não consentiremos o silêncio. Os 50 anos do golpe civil-militar deixaram marcas profundas na sociedade brasileira. Perdemos para os horrores da ditadura o engenheiro e político brasileiro, Rubens Paiva, que foi barbaramente torturado e assassinado.
Um lutador pela democracia brasileira, que ainda estudante de engenharia civil no Mackenzie, se mostrou um combativo jovem militante na luta “Pelo petróleo é nosso”. Ajudou a organizar o IV Congresso da União Estadual dos Estudantes em São Paulo, em março de 51. Nessa época, Rubens conheceu o advogado Almino Affonso, autor da lei do Salário Mínimo Profissional.
No ano seguinte, Rubens ajudou a organizar a Semana de Energia Elétrica, também promovida pela União Estadual dos Estudantes. Energia era o tema do momento e o jovem militante, engajado no movimento estudantil, já defendia o monopólio estatal brasileiro, com a compreensão de que as riquezas estratégicas deveriam ser controladas pelo Estado.
Mesmo depois de formado e já com sua empresa de engenharia, a inquietação política jamais deixou de fervilhar na alma de Rubens. Nas eleições de 62, foi eleito deputado federal. Na Câmara, Rubens conduziu os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as tentativas de golpe do Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o Ibad.
Também foi Rubens Paiva que sugeriu ao colega de parlamento, Almino Affonso, a criação de uma lei que instituísse o nosso Salário Mínimo Profissional: a lei 4.950-A, de 1966, que foi aprovada quando Almino estava no exílio.
No famigerado 1º de abril de 1964, marca das botas da ditadura militar em nosso país, Rubens Paiva proferiu discurso reproduzido pela Rádio Nacional conclamando jovens e trabalhadores pela defesa da democracia e da legalidade do governo.
Em sua trajetória política, Rubens foi um grande republicano e defensor da soberania nacional e do povo brasileiro. Graças à luta incansável e corajosa dos familiares das vítimas da ditadura militar e dos movimentos sociais e ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade, hoje, temos revelados os nomes dos algozes de Rubens e de tantos outros brasileiros e brasileiras submetidos a uma das maiores violações de direitos humanos de nossa história.
Não se trata de revanchismo, e sim de justiça. Que as marcas da ditadura militar não nos deixem esquecer as atrocidades cometidas e os homens e as mulheres que ainda desaparecem em nosso país. Vamos honrar a memória de Rubens Paiva com a coragem para aprofundar a democracia brasileira e a luta pelos direitos humanos.
A verdade não é uma concertação de silêncios. A verdade é uma corajosa luta pela memória e pela construção de uma outra história com justiça social, igualdade e respeito aos direitos humanos. Por isso, em memória da juventude lutadora dos anos de chumbo e do nosso presente, encerramos repetindo a paráfrase inicial: hoje e muito menos amanhã, não consentiremos o silêncio jamais.
Rubens Paiva, presente!”