Reajustes salariais no primeiro semestre de 2013

Segundo artigo, trabalhadores continuam conquistando aumentos reais nas negociações

Fonte: Dieese

 

Desde 1996, o DIEESE, por intermédio do seu Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-DIEESE), registra e analisa os reajustes salariais de cerca de 900 negociações coletivas em diversos setores de atividade em todo o país.

As informações preliminares relativas ao primeiro semestre de 2013 mostram que, embora os resultados alcançados tenham se mantido em patamares elevados, ficaram aquém dos verificados em igual período de 2012, indicando que, de modo geral, os trabalhadores continuam conquistando aumentos reais nas negociações coletivas. Convém lembrar que 2012 se destacou como o melhor ano da série, iniciada em 1996.

Das 328 negociações analisadas, travadas em todo o Brasil entre janeiro e junho de 2013, 84,5% registraram reajustes salariais superiores à inflação medida através do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) [ii], calculado pelo IBGE. No mesmo período do ano anterior, considerando as mesmas negociações coletivas, este percentual chegou a 96%.

Na composição dos 84,5% das negociações analisadas, cujos reajustes superaram o INPC no primeiro semestre de 2013, nada menos que 34,8% apresentaram ganhos variando de 0,01% a 1% acima do índice inflacionário, ante 20,6%, em 2012. Todavia, enquanto naquele ano 46,6% das negociações lograram mais de 2% de aumento real, em 2013, apenas 20,1% das negociações conquistaram aumentos reais desta magnitude. As negociações que superaram o INPC em mais de 4%, em 2012 totalizaram 14,1%, sendo apenas 0,6% aquelas que atingiram iguais resultados em 2013. Nos seis primeiros meses deste ano, as negociações que repuseram apenas a inflação acumulada na data-base corresponderam a 7,0% do total ante 2,8%, no primeiro semestre de 2012, ao passo que as que resultaram em perdas salariais corresponderam a 8,7%, em 2013, diante de apenas 0,9%, em 2012.

Os expressivos resultados de 2012 podem ser explicados, em grande parte, pelo aumento real de 7,5% conferido ao salário mínimo. Como um número expressivo de trabalhadores brasileiros recebem salários concentrados em faixas muito próximas deste referencial, a elevação do piso nacional rebate diretamente nas negociações salariais das diversas categorias. No primeiro semestre de 2012, o aumento real médio para o conjunto das mesmas negociações analisadas foi de 2,26% (maior verificado em toda a série), ante 1,62% em 2010, 1,37%, em 2011 e 1,18% em 2013.

Além disso, a redução dos percentuais de ganho real tende a estar relacionada à elevação dos índices necessários para a reposição da inflação, ao longo do primeiro semestre, na comparação com os anos anteriores, o que se soma à perda de vigor da taxa de crescimento da economia que vinha ocorrendo, até meados do ano passado.

Apesar da inflexão em relação a 2012, os resultados de 2013 não podem ser considerados negativos, dado que em quase 92% das negociações analisadas, os trabalhadores conseguiram ao menos repor o poder de compra da data-base anterior. Tais resultados só não foram melhores que os verificados nos anos de 2010 e 2012, e foram muito semelhantes aos de 2011.

Para o segundo semestre de 2013, alguns indicadores apontam para um cenário mais positivo para as negociações salariais. Dentre eles destacamos a retomada do crescimento da economia brasileira, que avançou 2,6% neste primeiro semestre em relação ao primeiro semestre de 2012; a tendência de queda da inflação, que deve resultar em índices menores nas próximas datas-bases; a desvalorização do real, que eleva a competitividade da produção nacional nos mercados interno e externo; e o impacto positivo que as manifestações populares de junho podem ter nas mobilizações dos trabalhadores.

 

TABELA 1

Distribuição dos reajustes salariais, em comparação com o INPC-IBGE

Brasil, 2008-2013

Variação 2008 2009 2010 2011 2012 2013  
Acima do INPC-IBGE 75,9 78,0 87,2 84,4 96,3 84,5  
Mais de 5% acima 0,3 1,8 6,1 2,4 8,3 0,6  
De 4,01% a 5% acima 1,2 1,5 3,4 2,4 5,8 0,0  
De 3,01% a 4% acima 3,4 2,1 6,4 7,0 4,6 6,7  
De 2,01% a 3% acima 6,7 8,2 11,9 10,1 27,9 12,8  
De 1,01% a 2% acima 28,7 18,0 24,1 33,9 29,1 29,6  
De 0,01% a 1% acima 35,7 46,3 35,4 28,4 20,6 34,8  
Igual ao INPC-IBGE 12,2 14,0 8,5 8,0 2,8 7,0  
De 0,01% a 1% abaixo 10,7 5,2 3,7 6,4 0,9 8,1  
De 1,01% a 2% abaixo 0,6 0,9 0,0 0,6 0,0 0,3  
De 2,01% a 3% abaixo 0,3 0,3 0,3 0,6 0,0 0,3  
De 3,01% a 4% abaixo 0,0 0,0 0,3 0,0 0,0  
De 4,01% a 5% abaixo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0  
Mais de 5% abaixo 0,3 1,5 0,0 0,0 0,0  
Abaixo do INPC-IBGE 11,9 7,9 4,3 7,6 0,9 8,7  
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0  
Fonte: DIEESE. SAS-DIEESE – Sistema de Acompanhamento de Salários  
Obs.: Foram considerados somente os reajustes salariais das unidades de negociação com registro em todos os anos da série

 


[i]          Este texto faz um resumo da publicação Estudos e Pesquisas n.º 69, publicada em agosto de 2013 pelo DIEESE. Para ler a versão na íntegra, acesse:

                http://www.dieese.org.br/balancodosreajustes/2013/estPesq69balNegocia1sem2013.pdf

[ii]                O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) pesquisa a variação do custo de vida de famílias com rendimentos entre 1 (hum) a 5 (cinco) salários mínimos nas Regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, Brasília e município de Goiânia.

 

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