Em reunião realizada no Ministério Público Federal (MPF), os representantes da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) defenderam a permanência do bonde tradicional, que é tombado pelo patrimônio histórico. O encontro teve a participação também do diretor do Senge-RJ Jorge Saraiva, e do conselheiro do Clube de Engenharia e chefe da divisão técnica de transportes e logística do clube, Alcebíades Fonseca. A reunião foi realizada no dia 3 de abril.
O diretor do Clube afirmou que a reunião não chegou a algum resultado porque a Central, responsável pelos bondes de Santa Teresa, não demonstra interesse em chegar a um acordo e não apresentou um projeto.
“A juíza que mediou a reunião perguntou para os representantes da Central se eles estariam dispostos a entrar em um acordo com a Amast, mas eles afirmaram que não. Já a Associação diz que existe a possibilidade de acordo, mas defende que o bonde continue tradicional”, afirmou Alcebíades.
Uma nova reunião foi marcada para o dia 24 de abril. A juíza Ana Padilha Luciano de Oliveira determinou que a Central entregue um projeto para o MPF até o dia 17 de abril.
Licitação “viciada”
O diretor do Clube também criticou a postura da Central. Segundo ele, os representantes da empresa “deram uma volta” para tentar justificar os motivos para a modernização do bonde sem respeito histórico. Mas, segundo ele, as razões apresentadas não são suficientes.
“Eles dizem que o bonde tem problemas de segurança por causa do estribo, que a parte usada para a pessoa subir no bonde. Essa seria a justificativa para fazer um bonde fechado. No entanto, eles não apresentaram nenhuma estatística de acidentes. A Amast não tem nenhum número de acidente relativo ao estribo. As principais causas são mecânicas. Aliás, o bonde parou por causa de problemas mecânicos”, defende ele.
“Existem alternativa à segurança sem precisar fechar o bonde”, afirma o diretor do Senge-RJ Jorge Saraiva.
O presidente da Amast, Paulo Saad, afirmou que o bonde tem mais de 100 anos e não há registro de acidentes.
Alcebíades afirma ainda que as organizações não são contra a modernização. Porém, ele afirma que essa modernização deve ser feita da maneira correta.
“Pode-se mudar o sistema operativo sem perder o valor histórico do bonde. Além disso, como se faz uma licitação sem que a empresa tenha apresentando um projeto? A TTrans (empresa que venceu a licitação) diz que ainda está preparando o projeto, mas isso não pode acontecer. Esse processo licitatório foi viciante”, critica o diretor do Clube.
Diretor da Amast entra com ação contra a TTrans
O diretor da Amast Álvaro Braga entrou com uma ação popular contra o Estado do Rio de Janeiro, pedindo a suspensão da licitação e o contrato para aquisição de novos 14 bondes para Santa Teresa. O Senge-RJ deu auxílio jurídico para o diretor.
A ação pedia ainda que fosse anulado o eventual contrato firmado com a empresa TTrans, que ganhou, em 2005, a licitação para a compra dos novos bondes. Além disso, o processo também pedia que fosse elaborado um projeto básico antes da realização da licitação.
O objetivo seria elaborar um meio de transporte para Santa Teresa que respeite as particularidades do bairro, a necessidade dos moradores e o valor histórico dos antigos bondes, considerados patrimônios culturais do Rio de Janeiro.
A TTrans ganhou a licitação em 2005, no valor de R$ 14 milhões, para a construção de 14 bondes, mas entregou sete, apenas dois anos depois. Uma professora morreu em um acidente com um bonde recém reformado e próprio governador Sérgio Cabral retirou esses veículos de circulação por falta de segurança.
No entanto, a empresa se justificou dizendo que estaria comprando trens e não fabricando.
“Mas ontem, o presidente da Central disse que não existe bonde em prateleira. Ele mesmo se contradisse. Se não existe bonde em prateleira, como eles vão comprar? Eles vão fabricar, então”, afirmou Alcebíades.