Cineasta Sílvio Tendler é chamado para depor

Ele é acusado de participar do protesto contra comemoração do golpe que ele não foi

O cineasta Sílvio Tendler foi chamado pela 5ª Delegacia de Polícia (DP) para depoir. O inquérito apurar o protesto ocorrido no dia 29 de março deste ano, durante o protesto contra a comemoração do Golpe de 1964, que estava sendo realizado no Clube Militar. Tendler, que estava recém-operado na época, não participou da manifestação, mas está sendo acusado pelos militares de estar presente no ato.

 

Carta aberta

“Informo que na data da manifestação, 29 de março de 2012, estava recém-operado, infelizmente impedido de participar de ato público contra uma reunião de sediciosos, os quais, contrariando à determinação da Exma. Sra. Presidenta da República, comemoravam o aniversário da tenebrosa ditadura, que torturou, matou, roubou e desapareceu com opositores do regime”, disse o cineasta, carta aberta.

Tendler afirma que apenas fez um chamamento pelo site de vídeos Youtube, convidando as pessoas a se manifestarem contra as comemorações do golpe. “Se este general entendesse ou respeitasse a lei, não teria promovido a festa e, tendo algo contra mim, deveria tentar me enquadrar por “delito de opinião” mas aí, na fotografia, ele ficaria mais feio do que é, não é mesmo?”, criticou ele.

“Tenha certeza, Delegado, de que, enquanto eu tiver forças, me manifestarei contra o arbítrio e a violência das ditaduras e, já que o Sr. está conduzindo o inquérito, procure apurar se o canalha que prendeu, torturou e humilhou minha mãe nas dependências do Doi-Codi participou do “festim diabólico”. Isso sim é Constrangimento Ilegal. E já que se trata de assunto de polícia, aproveite para pedir ao “constrangedor ilegal” que ficou com o relógio da minha mãe – ela entrou com o relógio no Doi-Codi e saiu sem ele
– que o devolva. Processe-o por “apropriação indébita, seguida de roubo qualificado (foi à mão bem armada)”. É fácil encontrar o meliante. Comece pelo Comandante do quartel da Barão de Mesquita em janeiro de 1971. Já que eles reabriram o assunto, o senhor pode desenterrar o processo. É, Delegado, o que eles fizeram durante a ditadura é mais assunto de polícia do que de política!”, completou.

 

Manifestação

No dia 29 de março, enquanto cerca de 300 militares da reserva participavam do evento no Clube Militar, chamado de “1964 — A Verdade”, pelo menos 350 pessoas, entre elas representantes de PT, PCB, PCdoB, PSOL, PDT e outros movimentos sociais de esquerda, fizeram a manifestação na frente das duas entradas do prédio, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Santa Luzia.

Um dos manifestantes foi detido pela polícia e liberado após prestar depoimento. Outros dois ficaram feridos ao serem atingidos por estilhaços de bombas de efeito moral.

Os manifestantes também derramaram um balde de tinta vermelha nas escadarias do Clube Militar, representando o sangue das vítimas da ditadura, e atingiram um segurança do local com ovos. Durante o tumulto, o Batalhão de Choque da PM usou spray de pimenta e bombas de efeito moral.Polêmica

 

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