O presidente Luiz Inácio Lula da Silva equiparou o massacre do povo palestino promovido pelo governo de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto comandado por Adolf Hitler contra os judeus na Segunda Guerra Mundial. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula neste domingo (18) em entrevista coletiva concedida na 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, Etiópia (assista à integra abaixo).
O presidente brasileiro, ainda neste domingo, chamou de “chacina” e “genocídio” a violenta ação militar israelense, comandada pelo primeiro-ministro sionista Benjamin Netanyahu. Lula usou o termo “chacina” em declaração onde destacava a inoperância do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) em evitar conflitos pelo mundo. “Não temos governança. A invasão do Iraque não passou pelo Conselho de Segurança da ONU. A invasão da Líbia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU. A invasão da Ucrânia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU. E a chacina de Gaza não passou pelo Conselho de Segurança da ONU”, afirmou, de acordo com a Folha de S.Paulo.
Mulheres e crianças
Já o termo ‘genocídio’ veio em meio a críticas sobre a suspensão de doações de países ocidentais à agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA). “Quando vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária para os palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente, e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Não é uma guerra entre soldados e soldados: é uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças”, disse segundo a o presidente Lula, ao ser questionado pela agência RFI (Radio France International).
Por fim, o presidente afirmou que o Brasil defende o reconhecimento de um Estado palestino pleno e soberano. Também reiterou que condenou os ataques promovidos pelo Hamas, mas continua solidário ao povo palestino. “Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai restituir a vida de 30 mil pessoas que já morreram? Os 70 mil que estão feridos?”, evocou. “Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos dirigentes políticos do planeta?”, complementou.
Genocídio
Um dia antes da fala de Lula, o presidente da União Africana (UA), Azali Assoumani, já havia classificado de “genocídio” a ação militar de Israel na Faixa de Gaza. Ao discursar durante a cerimônia de abertura da 37ª Cúpula da União Africana no sábado (17), Assoumani fez um apelo para que a comunidade internacional aja para colocar fim à ofensiva israelense.
No início do ano, Assoumani, que também preside a União das Ilhas Comores, um pequeno país da costa oriental africana, já tinha apoiado a iniciativa do governo da África do Sul, que pediu à Corte Internacional de Justiça que reconhecesse que Israel violou a convenção da Organização das Nações Unidas para prevenção e repressão ao genocídio e ordenasse o imediato cessar-fogo na região.
“A comunidade internacional não pode fechar os olhos a tais atrocidades, que não só criam o caos na Palestina, mas também têm consequências desastrosas para o resto do mundo”, acrescentou o presidente da União Africana, destacando que a paz continental depende, também, de que outras partes do planeta não estejam conflagradas. “Assim, apelo a nossa conferência para que contribua para pôr fim ao sofrimento do povo palestino e continue apoiando os esforços destinados a estabelecer dois estados, israelense e palestino, vivendo lado a lado, em paz e estabilidade.”
Balanço
Ao final da Cúpula da União Africana, neste domingo, Lula fez um balanço da visita ao continente africano. “Para mim, essa é uma das viagens mais importantes que eu fiz e certamente de todas que eu farei. Essa continua sendo uma reunião extremamente importante porque eu pude falar para quase a totalidade dos países africanos de uma única vez”, ressaltou. Lula voltou a reconhecer a “dívida histórica” com os países africanos e se comprometeu a investir em parcerias para impulsionar o desenvolvimento do continente.
Assim, o presidente defendeu uma forte aliança entre os países da América Latina e da África em torno da agenda de transição energética. A agricultura saudável também está entre os eixos prioritários para alianças entre as duas regiões. “Quando nós falamos de transição energética, quando nós falamos de agricultura e baixo carbono, a gente olha o mapa do mundo e a gente vê dois espaços extraordinários. Um é no continente latino-americano e outro é no continente africano, com a quantidade exuberante e milhões de hectares de terras a serem exploradas para a gente produzir”, destacou o presidente.
Netanyahu
Pouco depois da fala de Lula, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu afirmando que “as palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves”. Netanyahu postou no X: “Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa, e faz isso ao mesmo tempo que defende o direito internacional”. A seguir, convocou o embaixador brasileiro em Israel. O ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, escreveu: “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Ordenei aos funcionários do meu gabinete que convoquem o embaixador do Brasil para uma repreensão amanhã”.
Fonte: Rede Brasil Atual, com informações da Agência Brasil
Foto: Ricardo Stuckert/PR