Começou na tarde de hoje (22/04) o simpósio internacional “A Nova Dinâmica das Relações Sul-Sul e os desafios da integração latino-americana”. Com auditório lotado, o Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ recebeu acadêmicos, universitários, intelectuais, representantes da sociedade civil e parlamentares de diferentes países e continentes que acompanharão, até o dia 25/04, quinta-feira, mesas de debates e conferências nas quais 55 convidados debaterão o Sul global e a inserção latino-americana nesse cenário mundial.
Monica Bruckmann, professora da UFRJ, membro do GT CLACSO Geopolítica, Integração regional e Sistema mundial e coordenadora do evento, traçou em sua fala as linhas que o simpósio seguirá nos próximos quatro dias: um olhar com rigor científico por parte de intelectuais comprometidos com as transformações que a América Latina precisa e que a sua posição no mundo demanda.
O simpósio, que recebe 55 convidados de todo o mundo, propõe a construção de um balanço da conjuntura mundial contemporânea, com destaque para as grandes transformações econômicas, científicas, tecnológicas e novos alinhamentos geopolíticos que estão reorganizando territórios a nível local, regional e mundial.
“Identificamos dois movimentos simultâneos e paralelos: um deslocamento das capacidades de produção científica, tecnológica, de instrumentos de desenvolvimento econômico do velho norte desenvolvido para o sul emergente e, também, do ocidente para o oriente, envolvendo, além da China, a Índia e potências emergentes africanas. A América Latina tem um papel importante nessa reconfiguração do sistema mundial. Precisa, no entanto, recuperar os instrumentos políticos necessários para ter maior impacto nos centros de decisões que estão conduzindo esse processo de transformações da economia e do poder mundial”, destacou a professora.
Uma nova ordem econômica e política internacional emerge neste contexto e define a pergunta que guia todo o seminário: quais são os desafios da integração latino-americana nesse contexto de transformações cada vez mais rápidas, velozes, simultâneas, que impõem uma conjuntura totalmente diferente da que tínhamos no final do século XX?
“Essa conjuntura deve ser analisada com seriedade, em profundidade para que, a partir disso, tenhamos a possibilidade de pensar uma agenda acadêmico-política capaz de responder à necessidade de retomar a integração regional”, destacou Brukmann.
Desenvolvimento com foco no território
O Senge RJ, apoiador do evento juntamente com a Mútua, foi representado pelo diretor Pedro Enrique Monforte, que falou do espaço do sindicato no evento.
“O Senge é um sindicato diferente. Ele não se contenta em cumprir simplesmente seu papel de ser instrumento da luta por direitos trabalhistas para profissionais de engenharia. É uma entidade que se propõe a participar de espaços amplos de formulação, de organização política, de mobilização da classe trabalhadora no Brasil e no mundo”, destacou Monforte.
Pedro, que integra as Brigadas Populares, trouxe para a mesa de abertura a sua experiência com o trabalho na ponta, junto aos movimentos de favela, pela água e pela energia nas periferias e como esse trabalho o levou ao sindicato que hoje dirige. Destacou, também, que a partir dos debates sobre o desenvolvimento econômico brasileiro e o papel da tecnologia e da engenharia nacional neste processo, fica evidente a necessidade de uma renovação nas ideias. “O papel do desenvolvimento, nessas entidades, nesses grupos que pensam essa questão a partir do papel do engenheiro, ainda há uma visão de desenvolvimento como se a industrialização, a produção de conhecimento e a defesa de recursos naturais e empresas estatais fossem suficientes para entender a realidade do nosso país hoje. São fundamentais, mas a gente precisa ir além. A discussão sobre o desenvolvimento não pode ser a mesma da década de 1950. A tecnologia tem hoje um papel hegemônico muito mais profundo na vida dos trabalhadores”, destacou Pedro.
“A gente tem feito um esforço, no Senge RJ, de discutir isso: o papel da engenharia popular, das tecnologias sociais no desenvolvimento do país e vimos buscando construir instrumentos de organização para isso, como o Coletivo Força Motriz. Ferramentas para, nas periferias do Rio de Janeiro, materializar esse processo, mostrar na prática que um novo paradigma para o papel da tecnologia na sociedade pode e deve existir”, finalizou.
Também integraram a mesa de abertura Roberto Medronho, Reitor da UFRJ; a argentina Karina Batthyány, Diretora Executiva do CLACSO; Cássia Turci, vice-reitora da UFRJ; o equatoriano Andrés Arauz, co-coordenador do GT CLACSO Geopolítica, Integração regional e Sistema mundial; Ana Célia Castro, Diretora Geral do CBAE/UFRJ; Elian Araújo, do Instituto dos Advogados Brasileiros e Jamerson Freitas, da Mútua.
Solidariedade, equidade e horizontalidade
Após a mesa que abriu o evento, Karina Batthyány apresentou a conferência inaugural, com foco na cooperação acadêmica internacional no contexto das relações Sul-Sul. As trocas acadêmicas no âmbito do Sul global ressurgiram com força no século XXI, entre os países em desenvolvimento, buscando gerar novos vínculos e relações marcadas pela horizontalidade e pela igualdade.
“A cooperação na nossa região, América Latina e Caribe, é uma das tantas expressões de solidariedade e trabalho conjunto entre os povos e países do Sul global, com a ideia de avançar no sentido do desenvolvimento, com o objetivo de alcançar o bem-estar das nossas sociedades”. A Diretora Executiva do CLACSO destacou o papel central do respeito à soberania e o conceito de complementaridade, a noção de interdependência, como fundamentais nesse processo: “É absolutamente impossível, na configuração atual que temos, pensar em saídas e alternativas desde um só país, ou uma só região”, destacou a professora.
Bratthyány traçou o histórico das relações de cooperação no Sul global desde os anos 1970, quando os processos de descolonização na África e na Ásia impulsionam as relações Sul-Sul. A Guerra Fria, as ditaduras na América Latina e a expansão do neoliberalismo a partir dos anos 1990 refrearam o avanço dessa integração mas, a partir do princípio deste século, as condições para a cooperação e para a construção da internacionalização do conhecimento voltam a prosperar. “O CLACSO trabalha fortemente com essa ideia para poder colaborar, compartilhar conhecimentos, iniciativas em áreas específicas de trabalho, vinculadas, em nossos casos, às ciências sociais e às humanidades”, apontou.
Após a conferência inaugural houve concerto do pianista Marcos Souza, com “Retratos da América Latina”.
O fórum internacional “A nova dinâmica das relações Sul-Sul e os desafios da integração latino-americana” continua nesta terça-feira, a partir das 9h até as 20h, e vai até a quinta-feira, 25/04. As inscrições seguem abertas e é possível acompanhar o evento presencialmente ou remotamente, por link do Zoom Meetings.
Clique aqui para ver a programação dos dias 22, 23, 24 e 25/04.
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Texto: Rodrigo Mariano/Senge RJ
FotoS: Ruth Scheffler/ UFRJ