Soberania em Debate: Protagonismo e políticas públicas para a juventude podem mudar as cidades

Professora, doutoranda, pesquisadora e militante dos movimentos sociais pela saúde mental e pela segurança alimentar, Maíra Marinho é mais uma representante da juventude do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que vem se destacando na disputa e na reflexão sobre as cidades. 

Para ela, esses grandes assentamentos são locais de memória, de trânsito de histórias que se conectam e se perpetuam através de laços de resistência, sociabilidade e cultura. “São espaços de pertencimento, onde nascem as comunidades, as redes que constroem a cidade, dando a elas suas identidades múltiplas. A cidade é um lugar, também, educativo. Essa é uma dimensão que não pode ser esquecida”, defende Maíra.

Entrevistada do segundo episódio de Soberania em Debate Cidades, série temática do programa semanal de entrevistas do projeto SOS Brasil Soberano, do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ), Maíra tratou dos desafios que cidades como a do Rio de Janeiro impõem, principalmente, aos seus jovens.

Políticas públicas

Os muitos acessos negados a jovens e adolescentes em um cotidiano brutalizado se transformam em números alarmantes. Nacionalmente, 5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não estudam, nem trabalham. A maioria é composta por mulheres negras. Na região metropolitana do Rio, violenta, racista, mergulhada na guerra cotidiana, vida e morte estão em jogo: foram ao menos 600 crianças e adolescentes baleados nos últimos oito anos, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado. Quase metade dos casos ocorreram em operações policiais.

Maíra destaca que, por um lado, o potencial transformador típico da juventude precisa ser valorizado com mais protagonismo. Por outro, ela aponta que, sem políticas públicas eficientes voltadas para a juventude, é difícil mudar o estado das coisas. A retomada da Conferência Nacional da Juventude é um marco nesse debate. Depois do desmonte promovido pelos governos Temer e Bolsonaro nas ferramentas de diálogo entre poder público e sociedade civil, a realização da quarta edição do encontro foi importante para recuperar o debate sobre a questão e apontar caminhos.

“É fundamental que se construam políticas públicas para a juventude. A Conferência Nacional da Juventude que aconteceu em dezembro do último ano viu surgir dois pontos importantes: a questão da saúde mental e a geração de emprego. É preciso que os municípios fortaleçam políticas públicas de acesso ao primeiro emprego. Há um programa, por exemplo, voltado para a capacitação de jovens para estágios em órgãos do Estado, como o Detran, UERJ etc. Essa é uma forma de inserir a juventude, via estágio, no mercado de trabalho. Com políticas como esta e a ampliação de concursos públicos, podemos reverter o quadro dramático que as juventudes enfrentam hoje”, defende Maíra.

Campo e cidade, juntos

Militante do MST, Marinho também destacou na entrevista conduzida pela jornalista Beth Costa que, mais que possível, é necessária a produção de alimentos em ambiente urbano. A professora lembrou que o Rio de Janeiro tem uma disposição de terras favorável, capaz de criar uma outra relação entre as periferias e favelas e as cidades onde estão. 

“Além de encurtar o espaço entre campo e cidade, a produção de alimentos orgânicos, livres de veneno, dentro das comunidades, pode virar a chave para o entendimento das favelas como parte da cidade, uma parte que a constrói, que a produz e que garante fornecimento de alimento para o conjunto da população”, defende Maíra.

O programa Soberania em Debate, projeto do SOS Brasil Soberano, do Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro (Senge RJ), é transmitido ao vivo pelo YouTube, todas as quintas-feiras, às 16h. A apresentação é da jornalista Beth Costa e do cientista social e advogado Jorge Folena, com assessorias técnica e de imprensa de Felipe Varanda e Lidia Pena, respectivamente. Design e mídias sociais são de Ana Terra. O programa também pode ser assistido pela TVT aos sábados, às 17h e à meia noite de domingo.

 

Rodrigo Mariano/Senge RJ | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

 

 

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