Entre os personagens de Mauricio de Sousa, Chico Bento é um símbolo de valorização da cultura e do meio ambiente. Num desenho animado de 2012, ele disputa um gole de água com uma onça.
Hoje, nós — seres humanos e fauna — vivemos algo parecido. Big techs e sistemas de inteligência artificial competem diretamente pelos nossos recursos hídricos, em escala global.
Os principais pontos sobre o consumo de água das big techs e da IA, baseados em pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, são:
1. Energia e refrigeração – Data centers gastam energia não apenas para operar servidores, mas também para resfriá-los, muitas vezes com refrigeração líquida.
2. Disputa por água– Em diversos países, essas operações competem com o abastecimento humano.
3. Treinamento de IA – O treinamento do ChatGPT-3 num data center da Microsoft pode consumir até 700 mil litros de água.
4. Projeção para 2027 – O consumo global de água por servidores de IA pode chegar a 4,2–6,6 bilhões de m³, o equivalente a metade do consumo anual do Reino Unido em 2023.
A Coalizão Direitos na Rede (CDR), da qual o Instituto Telecom faz parte, defende uma regulação da Inteligência Artificial e das grandes plataformas digitais que proteja os direitos humanos, a vida, a natureza e os recursos hídricos.
O desafio é grande. O Congresso Nacional, hoje majoritariamente alinhado à extrema direita, resiste aos PLs 2338/23 (IA) e 2630/20 (plataformas). Mas não podemos aceitar que “desenvolvimento” signifique destruição ambiental e ameaça à saúde humana.
Microsoft, Apple, Amazon, Tesla, Alphabet (Google/YouTube) e Meta (Facebook) priorizam lucros acima da vida. Cabe a nós agir com a coragem da onça e a determinação de Chico Bento para defender a água e o meio ambiente.
Instituto Telecom, Terça-feira, 12 de agosto de 2025
Marcello Miranda, especialista em Telecom
