Significativamente Desconectados | Instituto Telecom

"Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2024, 66% dos lares brasileiros não têm computador, notebook ou tablet. A maioria dessas pessoas afirma que o custo elevado é a principal barreira", destaca o Instituto Telecom

Por Marcello Miranda / Instituto Telecom

 

Vinte e sete anos após a privatização das telecomunicações no Brasil, a promessa de universalização do acesso continua a não se cumprir. O que temos hoje é um país profundamente marcado pela exclusão digital, onde o acesso à internet — especialmente de forma significativa — ainda é um privilégio de poucos.

A recente Pesquisa de Conectividade Significativa, publicada pela Anatel em setembro de 2025, com participação do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), escancara essa realidade. A conectividade significativa vai além de simplesmente estar “conectado” — envolve qualidade de conexão, acesso a dispositivos, habilidades digitais e regularidade de uso. Em outras palavras, trata-se de garantir que as pessoas possam realmente participar da vida digital com dignidade e autonomia.

Desigualdades gritantes

Falta de dispositivos: Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2024, 66% dos lares brasileiros não têm computador, notebook ou tablet. A maioria dessas pessoas afirma que o custo elevado é a principal barreira. Isso significa que dois terços da população não têm sequer as ferramentas básicas para uma conexão de qualidade.

Acesso a serviços essenciais: A pesquisa mostra que quanto menor a renda, maior a exclusão digital. Pessoas que ganham até um salário mínimo estão três vezes mais propensas a não acessar serviços públicos, bancários ou de saúde online. Em uma era em que esses serviços migram cada vez mais para o ambiente digital, essa exclusão equivale a negar direitos.

Internet móvel insuficiente: Mais de um terço da população ficou pelo menos um dia sem internet móvel no mês anterior à pesquisa — por falta de franquia de dados. Para quem depende exclusivamente do celular para estar online, essa limitação compromete atividades essenciais como pagar contas, agendar consultas ou acessar serviços do governo.

Um modelo que falhou

A privatização das telecomunicações, vendida como um caminho para a modernização e universalização do acesso, falhou com a população mais pobre. A conectividade se expandiu, sim — mas de forma desigual, precária e excludente. Os dados mais recentes confirmam: seguimos significativamente desconectados.

É hora de mudar a lógica que rege o setor. Conectividade significativa deve ser tratada como política pública prioritária — e como direito fundamental. Isso implica investimentos em infraestrutura, subsídios para aquisição de dispositivos, planos de dados acessíveis e, sobretudo, políticas de inclusão digital voltadas às populações mais vulneráveis.

Sem isso, estaremos perpetuando um apartheid digital que compromete a cidadania plena de milhões de brasileiros.

Instituto Telecom, Terça-feira, 9 de Setembro de 2025

 

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