O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro acompanhou — e sofreu as consequências do caos que se espalhou pela cidade, como toda a sociedade fluminense e carioca — a Operação Contenção, deflagrada no dia 28 de outubro com o suposto objetivo de cumprir mandados de prisão contra integrantes da facção criminosa Comando Vermelho. No dia seguinte, o Senge RJ se uniu à sociedade, novamente, agora pelo horror provocado pelo resultado da operação mais letal da história do estado e do Brasil.
Frente a imagens de barbárie, com fileiras de corpos alinhados em uma praça, carregados pelos próprios moradores, nos solidarizamos às famílias enlutadas, destroçadas por uma carnificina promovida pelo Estado que as deveria proteger.
A Segurança Pública é assunto recorrente dentro do sindicato, que pensa a melhoria da vida do povo trabalhador de forma integral. Para isso, recorremos à academia e recebemos especialistas de diferentes universidades do país para tratar do tema. Conhecemos, ao longo dos anos, diferentes caminhos para solucionar a grave crise de segurança no Rio de Janeiro e no Brasil, mas uma coisa sempre foi consenso: a tática de guerra que segue sendo adotada pelos governos e pelas forças policiais não se provou eficaz em lugar nenhum do mundo, em tempo algum.
Sabemos que a chacina ocorrida no final de outubro nos Complexos do Alemão e da Penha não tem qualquer relação com a solução de um problema para a população. Não estamos hoje mais seguros do que estávamos antes dela. Mas o governador Claudio Castro computa os números que pretendia atingir. Os 121 mortos daquela terça-feira são parte de um projeto de necropolítica que tem fins eleitorais: não geram segurança, mas geram votos.
É pelo medo e pelo caos estrategicamente gerados que o fascismo, historicamente, aprofunda suas raízes e implementa seus projetos de dominação. A tática funciona, e é justamente por isso que é tão importante denunciá-la. E para desmontar a narrativa fantasiosa de operação “bem-sucedida”, a chave é a verdade: as maiores apreensões de drogas e armas não foram feitas nas favelas. Foram encontrados mais fuzis na mansão do vizinho do ex-presidente Bolsonaro que na operação que parou o Rio, que não chegou a apreender nem 20% das armas naquela região. O avião presidencial, no mesmo governo Bolsonaro, foi usado para traficar cocaína.
Essa realidade não poderia ficar mais óbvia do que ficou após a Operação Carbono Oculto, organizada pela Polícia Federal que, após um profundo trabalho de inteligência, desarticulou esquemas de financiamento do crime organizado na Faria Lima, no coração do mercado financeiro do país. Sem disparar um único tiro, parte do verdadeiro poderio das facções criminosas foi desmontado com buscas em bancos, fintechs e corretoras. Na operação de Claudio Castro, o que tiveram para apresentar foram 17 mandatos cumpridos dos 100 expedidos. E 121 mortes.
O desafio que o Rio e o Brasil enfrentam não será superado com operações policiais e chacinas. Todos sabemos disso. Uma Segurança Pública realmente eficiente é incompatível com a política fiscal imposta pelo imperialismo. Exige ampliação de investimentos em inteligência, em infraestrutura pública nos territórios historicamente abandonados pelo Estado. Exige trabalho coordenado, aparato policial investigativo de ponta, tecnologia e um forte amparo social para oferecer saídas e prevenir a entrada de pessoas pobres no crime.
A Chacina de Claudio Castro não tem qualquer relação com a segurança. É instrumento político-eleitoral, é ferramenta geopolítica para facilitar e justificar futuras ações de governos que, sob o pretexto de guerra às drogas, hoje ameaçam a soberania de países latino-americanos. É a morte de inocentes usada como estratégia, a negação dos princípios civilizatórios que baseiam qualquer esperança por um futuro melhor. É política suja, rasteira, bárbara, fascista. Jamais compactuaremos com isso.
O Senge RJ reitera seu compromisso com a defesa da vida, da dignidade humana e de políticas públicas efetivas de segurança que protejam o povo, não que o execute. A construção de uma sociedade mais justa e segura passa necessariamente pelo fim da necropolítica e pela implementação de políticas estruturantes que ofereçam oportunidades, não balas.
Diretoria do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro
Foto: Arte sobre foto de Joedson Alves / Ag. Brasil