Debate sobre crise global destaca avanço da China na geopolítica pós-covid

O seminário “A crise mundial contemporânea e o impacto na América Latina e no Brasil” é uma realização do GIS/UFRJ com parceiros, entre eles o Senge RJ. Terá transmissão pela plataforma Zoom, nos dias 27 de outubro e 4 de novembro, das 16h às 18h.

A crise da covid-19 deu ainda mais velocidade à centralidade da China e, com ela, de demais países da Àsia, na reconfiguração da economia mundial, afirma Monica Bruckmann, professora de Ciência Política da UFRJ, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Geopolítica, Integração Regional e Sistema Mundial (GIS/UFRJ), que está organizando, junto com o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e outras entidades populares e sindicais, entre elas o Senge RJ, a nova etapa do Ciclo de Seminários de Análise da Conjuntura Mundial. O objetivo do evento é analisar as diferentes dimensões da crise mundial contemporânea e seus impactos na América Latina e no Brasil.

Com duas atividades on-line, nos dias 27 de outubro e 4 de novembro, das 16h às 18h, o seminário “A crise mundial contemporânea e o impacto na América Latina e no Brasil” terá transmissão pela plataforma Zoom, para os inscritos, e, simultaneamente, pelo canal de YouTube do Instituto Tricontinental. Os debates terão tradução espanhol/português.

“Pretendemos fazer um balanço do impacto da crise mundial, aprofundada pela covid-19, que atingiu todos os âmbitos da vida – econômica, sanitária, social…”, explica Monica. Segundo ela, a crise de 2020 e 2021, continuando em 2022, afetou mais as economias desenvolvidas do Norte, com média de 9% de queda do PIB na Europa e de 4% nos EUA, do que as do Sul emergente ou as economias asiáticas.

“A Ásia, principalmente a China, conseguiu recuperar a economia  por conta de uma capacidade muito grande de controle sanitário”, diz Monica. “A pandemia se inicia em dezembro de 2019, com seus primeiros efeitos em janeiro, e chega a seu pior momento em fevereiro e março de 2020. Em abril, a China já havia contido a propagação do vírus. E, no segundo semestre, já estava recuperando sua atividade industrial e econômica.”

Ela destaca que a China também foi o único país a crescer em 2020, com uma expansão de 2% do PIB, enquanto todos os demais registraram quedas fortes. “Atribuímos esse desempenho à capacidade de conter o vírus e a epidemia no país. Com uma população de 1,4 bilhão, foram 90 mil pessoas contaminadas e cerca de 5 mil óbitos.

De acordo com Monica, vivemos a crise mais séria dos últimos 140 anos, que vai acelerar mudanças de hegemonia no sistema mundial. “Os EUA, e também a Europa, mostram enormes problemas econômicos, uma grande dívida pública, taxa de desemprego alto. Mas desde o final do século 20 e início do 21, a China mo

stra que construiu uma capacidade fabril muito forte, detendo, em fins de 2019, 25% da produção industrial do mundo – de quatro produtos no planeta, um deles foi feito na China.

O paradoxo latino-americano

Esta segunda etapa do Ciclo de Seminários de Análise da Conjuntura Mundial quer avaliar os impactos desses deslocamentos de poder. E, principalmente nos debates do dia 4 de novembro, como o realinhamento da geopolítica mundial afeta a América Latina, de modo a apontar desafios e estratégias para os projetos do campo progressista na região.

“Todo o processo de reconfiguração das capacidades econômicas está colocando a América Latina em uma posição muito paradoxal”, avalia Monica. “Em vez de aproveitar as condições históricas de parceria para desenvolver relações estratégicas, de colaboração científica e tecnológica, com China, Índia, Rússia, a região aprofundou a condição de exportadora primária. Temos aumentado a cesta de exportação de produtos sem nenhum valor agregado.”

Desde 2015, as grandes economias latino-americanas sofrem um processo de desindustrialização, gerando, na opinião da professora, um novo momento de dependência na região. Também abandonam, diz ela, “os projetos nacionais de desenvolvimento e um dos principais instrumentos para melhorar as condições de a América Latina impactar nas mudanças mundiais de economica, ou seja, os espaços de integração regional”. Monica se refere à Unasul, no caso mais paradigmático, à Celac, ao movimento de aprofundamento do Mercosul, entre outros, que foram se debilitando, em grande medida devido à visão de governos conservadores e de ultradireita.

É uma direção oposta à tendência global. A professora de Ciência Política ressalta que  o mundo está se regionalizando,  criando novos espaços de cooperação, por exemplo na África, Ásia, entre os países do sudeste asiático, para melhorar as condições de influir e particpar nas mudanças globais.
PROGRAMAÇÃO E INSCRIÇÕES  

O Ciclo de Seminários de Análise da Conjuntura Mundial integra um programa de extensão da UFRJ iniciado em 2019. As mesas dos debates são compostas por acadêmicos e especialistas, e também por intelectuais orgânicos dos movimentos populares. “Nosso objetivo é que os debates sejam abrangentes e que possamos pensar coletivamente os desafios e as saídas políticas”, diz Monica.

“Torna-se cada vez mais urgente que a formulação de políticas públicas, o planejamento estratégico, a academia e as organizações populares e sindicais incorporem o acompanhamento dos fenômenos globais e regionais para construir projetos de desenvolvimento soberanos”, afirma o programa do eventos. Os inscritos, que vão acompanhar o seminário pelo Zoom, terão direito a certificado de participação.

Quarta-feira, 27 de outubro de 2021 | 16h (horário de Brasília) 

🔹 Oscar Ugarteche – Professor da Universidade Nacional Autônoma do México – Peru

🔹 Kelly Maffort – Direção Nacional do MST – Brasil

Quinta-feira, 4 de novembro de 2021 | 16h (horário de Brasília)

🔹 Claudio Katz – Professor da Universidade de Buenos Aires – Argentina

🔹 Messilene Gorete – Coletivo de Relações Internacionais do MST – Brasil

 

Faça sua inscrição para o 2º seminário clicando aqui: https://bit.ly/301aY0X 

 

  • Instituições organizadoras

Núcleo de Pesquisa sobre Geopolítica, Sistema mundial e Integração Regional – GIS/UFRJ

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro – SENGE RJ

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

Brasil de Fato

Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB Nacional

Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Ásia, África e as Relações Sul-Sul – NIEAAS/UFRJ

Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO)

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