Há determinadas afirmações que de tanto serem usadas parecem não ser mais verdadeiras. Entre elas as que dizem respeito à injustiça social, educação, trabalho. Isso apesar de as grandes marcas da democracia brasileira a partir de 2003, como mostram as historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloísa M. Starling no livro Brasil: uma biografia, terem sido “o combate à miséria, a redução da pobreza, a diminuição da desigualdade e a expansão da inclusão social”.
O que ocorre então? Não há uma resposta simplista, mas buscar caminhos na nossa história pode nos ajudar a evitar e a combater atalhos que nos levam a tragédias como a que estamos vivendo hoje em quase todos os setores da economia, social e político.
De quem é a culpa pela situação a que chegamos? De uma elite econômica financeira que sempre esteve de costas para as demandas da maioria da população brasileira. Para termos ideia da desigualdade extrema, o rendimento médio mensal do 1% da população mais rica do país, segundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), é 33,8 vezes maior do que a renda média mensal dos 50% mais pobres. Trata-se de uma elite sem nenhum compromisso com o desenvolvimento do Brasil.
O setor de telecomunicações foi um dos que apoiou esse caminho tenebroso que estamos vivendo, deixando claro o seu apoio ao capitão, em detrimento da democracia, da educação, da inclusão, do trabalho.
Um exemplo. Em plena pandemia, o presidente da Vivo, senhor Christian Gebara, ao justificar a negativa para o acesso gratuito à internet em comunidades de baixa renda, disse: “não é o momento de lançar nenhuma ação que possa ter um caráter competitivo”. Mentira! Qual competição, se Vivo, Claro, TIM e Oi dominam 80% do mercado de banda larga?
Temos que tirar o capitão? É óbvio. No entanto, é preciso mostrar claramente que quem o colocou lá foram os mesmos que sempre defenderam uma economia brasileira para poucos. Aqueles que defendem uma concentração de poderes privados em detrimento dos interesses públicos. Uma elite que tem horror de palavras como inclusão, universalização de direitos, que passa pela universalização da educação, da saúde, da banda larga.
Como diz a música Desgoverno, de Zeca Baleiro e Joãozinho Gomes: “um homem sem juízo e sem noção não pode governar uma nação”. E nós completamos: sem juízo, sem noção, não haverá inclusão. Lutemos por isso.
* Publicado por Instituto Telecom em 20 de julho de 2021
Foto: Agência Brasil (in Brasil de Fato)