A Operação Lava Jato, do Ministério Público de Curitiba (PR), provocou o enxugamento de R$ 172,2 bilhões em investimentos potenciais, cortes orçamentários feitos pelas empresas atingidas pela mídia e pela operação, no período de 2014 a 2017, fase mais intensa do lavajatismo. Só a Petrobras deixou de investir R$ 104,3 bilhões.
Os dados são de estudo do Dieese divulgado na última terça-feira (16), que também aponta, como consequência desse recuo produtivo, a não criação de 4,4 milhão de empregos no país, sendo 1,1 milhão na construção civil.
O valor dos investimentos não realizados é 40 vezes maior do que os R$ 4 bilhões que o MP alega ter recuperado aos cofres públicos. Ou 12 vezes maior, se considerada a estimativa do procurador Deltan Dallagnol, de R$ 14 bilhões retornados.
Para o presidente da CUT Brasil, Sérgio Nobre, a estratégia predatória do MP é suspeita. “No mínimo, merece uma investigação, porque ninguém destrói um setor inteiro sem servir a interesses econômicos de multinacionais ou países estrangeiros”, afirmou, durante o lançamento do estudo. “É muito importante que haja uma investigação nesse sentido.”
“O fato de [o brasileiro] estar pagando quase R$ 6,00 num litro de gasolina tem a ver com a Lava jato; o fato de um botijão de gás chegar a quase R$ 100,00, em algumas periferias de São Paulo, tem a ver com a Lava Jato”, ressaltou Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Dieese. Para ele, analisar a quantidade de empregos destruídos nesse processo, e os que sequer foram criados, é, de alguma forma, “olhar o modelo de desenvolvimento nos governos Lula e Dilma, que teve a Lava Jato como ponta de curva para justificar uma série de mudanças no projeto econômico no Brasil, que têm aumentado a desigualdade, concentrado renda e reduzido a nossa soberania.”
Política industrial e soberania
Sérgio, da CUT, lembra que a Lava Jato criminalizou as próprias pessoas jurídicas, expondo grandes empresas nacionais, inclusive a Petrobras, que estavam ganhando projetos importantes no mercado internacional, tanto na Europa quanto nos EUA. “Quem comete crime são as pessoas, não as empresas, que, assim como os empregos, precisam ser preservadas”, afirmou.
Uma das barreiras para a elaboração de uma política industrial do país, observou o dirigente, é exatamente a falta de empresas nacionais de porte. “A maioria é multinacional. E sempre que chamamos uma empresa estrangeira para discutir um projeto de desenvolvimento nacional, eles não escondem dizer: – não temos pátria, vamos onde dá mais lucro.” Os países que conseguem ter política industrial, lembrou Sergio, fazem isso a partir de suas empresas nacionais, como se pode ver, por exemplo, nos EUA ou na Alemanha.
Os procuradores do MP, contudo, promoveram uma exposição e desmoralização sem precedentes dos grupos nacionais mais relevantes da economia, avaliou o presidente da central sindical. Ele destacou, nesse sentido, as revelações feitas pela operação Spoofing, da Polícia Federal, que investigou a invasão de grupos e pessoas relacionadas à Lava Jato. “Tomamos conhecimento de que, a pretexto de combater a corrupção, a Lava Jato tinha um claro projeto de poder. As mensagens não deixam dúvida. Foi um instrumento de perseguição política. Não vamos esquecer nunca que a Lava Jato foi o principal cabo eleitoral do Bolsonaro.”
O próprio ex-juiz Sergio Moro, cuja parcialidade nas sentenças contra o ex-presidente Lula está sendo julgada pelo STF, teria reconhecido que as investigações da Lava Jato não atingiram deliberadamente as atividades dos bancos, para evitar o risco de crise sistêmica no setor financeiro. “Por que não tiveram esse cuidado com a Petrobras e com as empresas”, questiona o dirigente.
Do ponto de vista fiscal, o país deixou de arrecadar R$ 47,4 bilhões em impostos, além de R$ 20,3 bilhões em contribuições sobre folha de pagamento, segundo o trabalho do Dieese, intitulado “Implicações econômicas intersetoriais da operação Lava Jato”. A massa salarial dos trabalhadores brasileiros encolheu R$ 85,8 bilhões. O efeito sobre o PIB seria uma perda de 3,6%, um percentual que supera o desempenho somado obtido no período de 2017 a 2019, com a economia já sob ataque fiscalista. Em 2020, assistimos a uma queda de 4,1% no indicador.
A CUT vai encaminhar o estudo do Dieese aos presidentes da Câmara e do Senado, a parlamentares e aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Uma versão com a síntese dos dados será distribuída em forma de cartilha aos trabalhadores e sindicatos; e o seu detalhamento, publicado em livro, em fase de produção.