(Foto: CUT)
Fonte: CUT
Um encontro inédito entre lideranças da CUT e embaixadores de países integrantes da União Europeia ocorreu nesta terça-feira (27), em Brasília, para tratar da atual conjuntura política brasileira e o aprofundamento da crise econômica e social sob a ótica dos trabalhadores e trabalhadoras.
As consequências do golpe de Estado que destituiu uma presidenta legitimamente eleita por 54 milhões de votos – Dilma Rousseff – para a democracia no Brasil, os retrocessos sociais e trabalhistas e a perseguição de setores do Poder Judiciário ao ex-presidente Lula, foram os temas centrais das intervenções feitas pelos dirigentes da CUT no encontro.
“Conseguimos mostrar a eles o tamanho da insegurança jurídica e institucional que vive o país, diferentemente do que o governo golpista tenta passar para a comunidade internacional”, explicou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
“Demonstramos aos embaixadores a perseguição jurídica que o presidente Lula está sofrendo que tem como único objetivo tentar impedir a retomada de um projeto político para o país de desenvolvimento sustentável com distribuição de renda e inclusão social”, ressaltou Vagner.
Segundo o secretário de Relações Internacionais da Central, Antonio Lisboa, o encontro foi mais uma oportunidade para denunciar o golpe de 2016 e passar a visão dos trabalhadores aos embaixadores europeus a respeito da nova legislação trabalhista do governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (MDB-SP), que alterou mais de 100 artigos da CLT.
“Alertamos para os riscos que a nova lei representa para os trabalhadores, que perderam direitos históricos e ficaram submetidos a um mercado de trabalho informal, sem carteira assinada, e destacamos também a insegurança jurídica da nova lei, pois até mesmo os juristas têm o entendimento de que diversos pontos são inconstitucionais”, explica Lisboa.
Segundo o embaixador da Bulgária Valeri Yotov, que coordenou a reunião nesta tarde, o encontro foi uma ideia brilhante do embaixador da Alemanha Georg Witschel, que decidiu ampliar o diálogo feito anteriormente com representantes da CUT a respeito do atual cenário político, social e econômico do Brasil.
“Uma das principais tarefas dos embaixadores é discutir todos os assuntos relevantes para o desenvolvimento da cidadania e da democracia de um país. Por isso, ficamos muito satisfeitos de nos encontrarmos com os sindicatos e a CUT, que é um dos pilares da democracia brasileira”, ressaltou o embaixador.
“Os sindicatos, que representam os trabalhadores, são sempre um pilar muito importante de uma sociedade democrática”.
Para Valeri Yotov, numa democracia política, é essencial incluir a sociedade civil em todos os debates e processos sociais. “E os trabalhadores têm um papel social muito importante, pois eles são os criadores de todos os bens materiais que usamos na nossa vida”, defendeu.
Na Europa, segundo ele, é antiga a relação tripartite, com o diálogo permanente de sindicatos, Estado e empresários. No Brasil, nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, esse modelo de negociação foi intensificado.
“Porém, esse diálogo foi rompido de forma abrupta agora, com o golpe que colocou o ilegítimo Temer no governo”, pontuou o secretário de Relações Internacionais da CUT.
Aumento da violência
Outro assunto abordado pelas lideranças da Central durante o encontro foi o aumento da violência e dos assassinatos de líderes políticos, sindicalistas, camponeses e defensores dos Direitos Humanos no Brasil.
A escalada de ataques graves à caravana do ex-presidente Lula pela região Sul do país e o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, no Rio de Janeiro, no último 14 de março, foram citados aos embaixadores como exemplo do aumento da violência no Brasil comandado por Temer e do perigo desses episódios para a democracia.
“O lamentável assassinato no Rio de Janeiro aconteceu na vigência de uma intervenção federal altamente militarizada e deixamos isso registrado”, ressaltou Lisboa.
Acordo União Europeia/Mercosul
O secretário de Relações Internacionais da CUT contou que as tratativas de um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul também foram abordadas no encontro com os embaixadores.
“Deixamos claro a nossa preocupação com o avanço desse acordo em um momento em que o maior país de um bloco comercial, como é o Mercosul, está sem segurança jurídica e sob a intervenção de um golpe jurídico-parlamentar-midiático”, disse Lisboa.
Um documento elaborado pela Central com uma análise de conjuntura sobre o momento que o Brasil vive foi entregue aos embaixadores pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, pelo secretário-geral, Sérgio Nobre, pelo secretário de Relações Internacionais, Antonio Lisboa, e pelo secretário-adjunto de Relações Internacionais, Ariovaldo de Camargo.