“Não existe a cessão de espaço para as mulheres, existe a luta pelo espaço”, afirma Simone Baía

Simone Baía é diretora da Fisenge e integra o Coletivo de Mulheres da entidade

Fonte: Senge-PR

A realidade das mulheres no mercado de trabalho e o histórico da luta por direitos estiveram no centro da conferência realizada em Campo Mourão, região noroeste do Paraná, nesta sexta-feira (24). Organizada pelo Senge e Coletivo de Mulheres e Senge Jovem, o evento reuniu mais de 70 pessoas no auditório do Sindicato de Servidores Municipais (Sindiscam).

Tayná Silva, integrante do Senge Jovem da regional de Londrina, abriu o encontro lançando o convite para que estudantes e engenheiras já formadas façam parte do Coletivo de Mulheres do sindical, para que assim seja possível avançar em questão ainda presentes no cotidiano, como assédio moral e sexual. “São situações que não devem ser deixados nos bastidores, e sim devem ser trazidas para o debate mais amplo e crítico”.

“Esperamos que esse seja um momento em que nós, mulheres, possamos refletir e se sentir estimuladas a ocupar o nosso espaço. Pois se a gente não ocupar, não vamos avançar”, propôs Losani Perotti, diretora adjunta da regional do Senge-PR em Campo Mourão.

A conferência teve palestra de Rosane Pereira Scapin, engenheira agrônoma e agente de fiscalização do CREA-PR, Simone Baía Pereira Gomes, engenheira química e Diretoria da Mulher da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), e Miria Maria Peres, advogada e professora do curso de direito da Faculdade Integrado de Campo Mourão.

Mulheres mobilizadas

“Não há registro da presença e da participação das mulheres. A igualdade era defendida, mas não era praticada”, garante Simone Baía Pereira Gomes, engenheira química e Diretoria da Mulher da Fisenge, ao se referir à história do movimento sindical.

Esta invisibilidade, de acordo com a engenheira, é incompatível com a ativa participação feminina nos movimentos, na busca por melhores condições de trabalho, por melhores salários, pela redução da jornada, pela proibição do trabalho infantil, entre outras pautas. “Mas a história do movimento sindical é registrada pelas lideranças dos movimentos, que em geral eram homens. A história e a participação das mulheres foi esquecida, apagada”, lamenta.

A conquista do espaço pelas mulheres nas entidades de classe avançou na década de 1980, mas não sem tensionamentos. “Não foi natural, pois existem as relações de poder. Não existe a cessão de espaço para as mulheres, existe a luta pelo espaço”, afirmou a sindicalista, que é a primeira diretora da Mulher da Fisenge.

O caminho para a criação do Coletivo de Mulheres da Fisenge é exemplo dessa luta pela conquista de espaço. A primeira ação organizada das engenheiras foi em 2005, durante o 7º Consenge, na Bahia. “O que essas mulheres queriam? Um coisa muito simples: um espaço para a discussão da questão da mulher”. Não conseguiram. A conquista veio três anos depois, no Congresso seguinte, quando as engenheiras exigiram a criação da Diretoria da Mulher.

De lá para cá, o Coletivo de Mulheres tomou forma e ganhou força. Somado à defesa dos direitos, Simone frisa a perspectiva humanista do feminismo, que também atua pela superação das demais desigualdades e injustiças intrínsecas da sociedade capitalista e machista. “A gente não trata só das questões de gênero, de maneira segregada. A gente tem que pensar na melhoria da sociedade e do mundo em que vivemos”.

Desigualdade

Para exemplificar a disparidade entre o acesso aos cursos de engenharia por homens e mulheres, Rosane Pereira Scapin, engenheira agrônoma e agente de fiscalização do CREA-PR, resgatou dados de 1950. Naquele ano, o CREA-PR tinha o registro de 512 engenheiros e de apenas 4 mulheres. Já em 2010, o número passou de 24.130 homens e 546 mulheres.

A diferença salarial entre os gênero no mundo da engenharia repete o que ocorre em outras categorias. De acordo com dados do CREA de 2011 a 2016, as engenheiras recebem em média 10% a menos do que os engenheiros.

Neste quesito, há diferenças entre as subcategorias: na engenharia civil, por exemplo, as mulheres recebem 7,5% a menos; na elétrica e na química a diferença fica em 10%; na mecânica chega a 12%; a geologia é a área com menos desigualdade: 3,7%; já na agronomia, a diferença salarial entre homens e mulheres é em média de 19%.

“A gente quer é uma sociedade igualitária, em que a gente ganhe os mesmos salários, que tenhamos as mesmas condições”, defende a engenheira.

“O mesmo cálculo que eu estudei é o que o homem estudou, a mesma física, química, os processos, os fenômenos. Porque eu que tenho diferença salarial se eu aprendi a mesma coisa?”, questiona Simone Baía.

Diante das estatísticas que comprovam a diferença salarial e a menor inserção das mulheres nos cargos de poder, Miria Maria Peres, advogada e professora universitária, reafirmou o predomínio de uma cultura de discriminação com a mulheres: “Nós temos mais anos de estudos que os homens, e assim mesmo recebemos menos. Em 500 empresas grandes no brasil, somente 14% são comandadas por mulheres”.

Como décadas de atuação na advocacia trabalhista, ela relata casos em que as trabalhadoras perderam o emprego ou foram pressionadas por conta da maternidade: “Muitas demissões logo depois que a mulher volta da licença maternidade. Tem empresas que, por debaixo do pano, pergunta para as mulheres se elas têm laqueadura”. Para a advogada, o avanço da terceirização irrestrita afetará de maneira ainda mais cruel as mulheres, que já ocupam trabalhos mais precarizados e com menor remuneração.

>> Para ver o álbum de fotos do evento, acesse: http://migre.me/wksJY

>> Acesse aqui os vídeos com a íntegra das palestras:

PARTE 1 AQUI

PARTE 2 AQUI

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