Sindipetro-BA denuncia que a Acelen não comunicou vazamento que aconteceu na semana passada numa unidade da Refinaria Mataripe, em São Francisco do Conde (BA)
Um vazamento de gás altamente tóxico na refinaria Mataripe, em São Francisco do Conde (BA), deixou ao menos 14 trabalhadores hospitalizados. O acidente aconteceu na madrugada do dia 10, mas o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA) só tomou conhecimento na última segunda-feira (16). A entidade denuncia que a Acelen, que administra a refinaria, não comunicou nem sequer às Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipa) da unidade sobre o episódio, e cobra explicações.
O vazamento ocorreu durante o descarregamento de hipoclorito de uma carreta para um tanque, na unidade 52 da Acelen. O hipoclorito de alta pureza misturado a outro produto químico, por meio de contaminação cruzada, gerou um gás de alta toxicidade.
O gás se espalhou por toda a unidade, atingindo, ao mesmo tempo, trabalhadores que participavam de um curso de treinamento. De acordo com a apuração preliminar do sindicato, cerca de 30 trabalhadores inalaram o gás tóxico. Pelo menos 14 tiveram problemas respiratórios e buscaram atendimento nas unidades médicas da região. Nesse sentido, quatro precisaram de oxigênio e um necessitou de quatro dias de internação.
“A Refinaria de Mataripe, antiga Refinaria Landulpho Alves (Rlam), comprada pelo grupo árabe Mubadala, tem sido palco de momentos de insegurança para os trabalhadores”, afirmou a Federação Única dos Petroleiros (FUP), em nota.
A FUP aponta que o Sindipetro-BA vem recebendo denúncias frequentes, apontando falhas nas normas de segurança na refinaria. Os representantes dos trabalhadores estão buscando mais informações sobre o acidente e cobram investigação por uma comissão com a participação da Cipa e do próprio sindicato.
Efeitos da privatização
O governo Bolsonaro privatizou a Rlam em março do ano passado para o grupo Mubadala Capital, fundos dos Emirados Árabes Unidos, por US$ 1,65 bilhão. De acordo com o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), os árabes adquiriram a refinaria por um preço 55% abaixo do valor de mercado.
Além disso, a própria Petrobras e o Ministério Público Federal (MPF) investigam eventual ligação entre a venda da refinaria e as joias que Bolsonaro recebeu como presentes da Arábia Saudita e tentou desviar. A suspeita é que os itens milionários seriam uma espécie de propina em troca do ativo da Petrobras.
Por outro lado, cerca de três meses após a privatização, a Mataripe já estava vendendo o litro da gasolina 27,4% mais caro do que a Petrobras. Assim, o acidente que colocou a vida dos trabalhadores em risco se soma a uma série de fatores que colocam em xeque a privatização. Desse modo, os petroleiros defendem a “reestatização” da unidade. E até mesmo o governo Lula já fala em “recomprar” a refinaria.
Fonte: Rede Brasil Atual
Texto: Tiago Pereira/RBA
Foto: Reprodução RBA