Via Esquerda Online
Por: Gê Freitas, de Belém, PA e Thaís T, de São Paulo, SP
Lucía Pérez, 16 anos, drogada, estuprada, torturada e assassinada em Mar del Plata na Argentina. O crime ocorreu no último dia 8, mesmo final de semana em que 70 mil mulheres se reuniam em Rosário para debater temas relacionados à violência contra as mulheres e desigualdades de gênero.
A brutalidade deste crime retomou um debate que tem ocorrido em todos os países latino-americanos sobre o feminicídio em índices epidêmicos. Em 2015, outro crime bárbaro, o assassinato realizado pelo namorado de Chiara Páez, uma adolescente de 14 anos, grávida, foi o estopim para a reunião de dezenas de organizações, partidos e grupos feministas que se levantaram em uma multitudinária marcha conhecida como #NiUnaMenos. Mais de 500 mil pessoas pelo país e 300 mil na capital argentina se reuniram em frente ao Congresso Nacional. Em agosto de 2016, outras 500 mil marcharam no Peru sob o mesmo lema “Nenhuma a menos”.
Desta vez, além das manifestações pelo país, está sendo convocada pela internet uma paralisação das trabalhadoras e trabalhadores a partir das 13h desta quarta-feira (19), que já conta com a adesão e apoio de vários sindicatos. Entre eles, o importante sindicato dos docentes da Universidade de Buenos Aires. Essa iniciativa é inspirada, assim como a greve polonesa realizada recentemente, em uma histórica greve geral na pequena ilha europeia, Islândia, que em 1975 parou 90% das mulheres do país, protagonizando uma das maiores mobilizações feministas já realizadas.
Paralisar a produção, as aulas, os transportes, ou seja, cruzar os braços e sair em marcha é fundamental para mostrar à sociedade que quem gera essa riqueza são as mulheres e homens trabalhadores e que para estas deve ser, no mínimo, garantido o direito à vida.
Dados divulgado pela organização do #NiUnaMenos afirmam que na Argentina, em 2015, 286 mulheres morreram apenas pelo fato de serem mulheres. Por isso, muitos dos grupos organizadores deste ato denunciam o Estado como culpado. A Argentina, assim como o Brasil, passa por diversos ataques do governo que estão restringindo as verbas para os serviços públicos. A má qualidade nos transportes, nos serviços de assistência às vítimas de agressão, na saúde, aprofunda as chances dos feminicídios acontecerem e as maiores vítimas são aquelas que dependem de atendimentos gratuitos, como as trabalhadoras e pobres.
Faz falta uma forte primavera feminista na América Latina. Chile, México, Bolívia e Honduras já se uniram às manifestações. Aqui no Brasil é preciso unificar as lutadoras e sair às ruas em solidariedade às nossas irmãs argentinas, para lutar contra a ofensiva reacionária e os ataques que o governo Temer quer impor às mulheres trabalhadoras.