A quem pertence a Eletrobras? – Uma resposta

" É triste ver um país vender geografia, história, know-how e achar que está tudo bem. O que precisamos refletir é a razão dessa sanha destrutiva e inútil que tomou conta da sociedade brasileira."

Por Roberto D’Araújo – Diretor do ILUMINA

O jornalista Carlos Alberto Sardenberg, do jornal O GLOBO, publicou este artigo https://oglobo.globo.com/opiniao/a-eletrobras-de-quem-mesmo-21739479. Respeitosamente, enviamos uma resposta:

Prezado Sardenberg:

Você conhece o assunto melhor do que eu. Só o déficit de arrecadação do 1º semestre do governo soma R$ 38 bilhões, quase duas Eletrobras. Para mim, ou tapamos definitivamente o ralo, ou vamos vender a Amazônia e não vai resolver.

Sobre os donos da Eletrobras, parece que a partir de um momento da história, diversos partidos políticos, de diversas ideologias, tentam estratégias destrutivas. Senão, vejamos:

  • O governo FHC proibiu investimentos para paralisa-la e vende-la. Com usinas prontas e faturando “on sale”, quem iria construir novas? Tivemos o maior racionamento da história sem guerras ou desastres naturais, pois o ano hidrológico de 2001, ao contrário do propalado, foi uma seca mediana. A região Sul não teve racionamento e verteu água! Uma linha entre Paraná e São Paulo (Ibiuna-Bateias) poderia ter aliviado a nossa penúria no Sudeste. Por que não foi feita? Porque o setor privado não se interessou. Quem construiu a linha depois do racionamento? Furnas.
  • No início do governo Lula, sob uma queda de 15% da carga do sistema, o governo decidiu reduzir os contratos (25%/ano) da Eletrobras. Para que? Para implantar o mercado livre, um projeto do governo FHC. Como as usinas são hidroelétricas, continuaram gerando por ordem do ONS e sendo remuneradas por menos de R$ 10/MWh. Essa é a singularidade brasileira. Essa energia quase gratuita fez a festa no mercado livre e provocou prejuízos durante 3 anos à Eletrobras. Portanto, a MP 579 não foi o único e nem o primeiro tiro no pé. Do lado do mercado livre, grandes ganhos privados.
  • E as SPEs (Sociedades de Propósito Específico)? O nosso “pujante” setor privado, que, para alguns, vai salvar o Brasil, não contente com os subsídios do BNDES, só investiram com a ajuda da Eletrobras como parceira minoritária. Prejuízos públicos, lucros privados.
  • A lei 12783/2013 desprezou registros contábeis aprovados pela ANEEL e auditores, preferindo adotar modelos matemáticos altamente contestáveis no seu lugar. Como exemplo, as usinas da CHESF cedem energia por menos de R$ 10/MWh! Procure saber se há algum exemplo semelhante no planeta Terra.
  • Os consumidores não têm a mínima ideia sobre isso. Não existe empresa de energia que consiga funcionar com esses níveis de preço. É preciso lembrar que, mesmo com essa energia quase gratuita, a tarifa residencial final gira no entorno de R$ 800/MWh, a 5ª tarifa mais cara do planeta. E ainda temos de assistir autoridades falando em ineficiências!!
  • O que está por trás dessa alta tarifária? Claro, impostos, encargos, todos criados pós a mercantilização de 1995. Mas principalmente, altos lucros que, com a escolha da Dilma, permaneceram intocados. Mais uma vez, lucros privados prejuízos públicos.
  • Assim, os donos da Eletrobras têm sido diversos políticos, mas sempre de mãos dadas com interesses privados.
  • Apesar disso tudo, desde a criação da Eletrobras em 1962, pulamos de 5.000 MW para mais de 120.000 MW. O sistema integrado brasileiro e a operação interligada é uma arquitetura brasileira nascida dentro da Eletrobras. Usinas hidroelétricas não são meras fábricas de kWh, como são as térmicas ou as eólicas. Por trás das turbinas há reservatórios cuja área equivalem a várias baias de Guanabara. Será que alguém sabe que ações são realizadas pelas empresas da Eletrobras nesses lagos? A Eletrobras tem o maior centro de pesquisa em energia elétrica e colabora tecnicamente com diveras universidades brasileiras e internacionais.

Portanto, é triste ver um país vender geografia, história, know-how e achar que está tudo bem.

O que precisamos refletir é a razão dessa sanha destrutiva e inútil que tomou conta da sociedade brasileira.

Atenciosamente

Roberto Pereira D’Araujo

Diretor do ILUMINA

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