Em meio às consequências da privatização da Eletrobras, realizada durante o governo Bolsonaro, uma onda de perseguições e tentativas de demissão por justa causa tem atingido engenheiros e funcionários das empresas do grupo, incluindo Chesf e CEPEL. O caso foi denunciado por Agamenon Oliveira, pesquisador com 42 anos de serviços prestados ao CEPEL, durante entrevista ao programa da série Engenharia e Desenvolvimento do canal Arte Agora.
“Existe uma política deliberada de perseguir as representações sindicais para criar dificuldade”, afirmou Oliveira, que atualmente preside a Associação de Empregados da CEPEL e exerce a secretaria geral do Sindicato de Engenheiros do Rio de Janeiro. Ele próprio foi vítima de um processo de afastamento baseado em acusações que, segundo ele, foram fabricadas pela direção da empresa.
O engenheiro relatou que foi surpreendido por um comunicado informando seu afastamento por “mau comportamento”, após uma breve conversa de apenas 1 minuto e 14 segundos com duas funcionárias na biblioteca da empresa. A acusação, que alegava intimidação, foi considerada improcedente pela Justiça em primeira instância, com o juiz reconhecendo inconsistências no relato apresentado pela empresa.
Padrão de perseguição em todas as empresas do grupo
O caso de Agamenon não é isolado. Segundo o engenheiro, um levantamento realizado nas empresas da Eletrobras revelou um padrão sistemático de perseguição contra representantes sindicais e trabalhadores com estabilidade. Entre os casos citados estão o de Ícaro, da Eletronorte, que acabou saindo pelo plano de demissão incentivada após enfrentar acusações de falta ética por criticar o processo de privatização.
Na própria Eletrobras, três representantes foram alvo de processos semelhantes. Na Eletrosul, outro caso de desligamento por justa causa foi registrado. No CEPEL, a presidente da associação de funcionários, uma pesquisadora de nível 4 com cerca de 40 anos de casa, foi demitida de forma desrespeitosa enquanto participava de um congresso representando a empresa.
Outro caso emblemático é o do engenheiro Maíson Silva, vice-presidente do Sindicato de Engenheiros de Pernambuco, que também enfrenta processo judicial. Segundo Oliveira, a Chesf conseguiu colocar o caso sob segredo de justiça, em uma manobra classificada por ele como “desonesta e pouco republicana”.
Estratégia deliberada contra trabalhadores com estabilidade
Agamenon Oliveira denunciou que a direção das empresas tem enviado recados indicando que o propósito é “fazer tudo para demitir todas as pessoas que têm estabilidade”, incluindo membros da CIPA e diretores sindicais. Ele classificou a situação como “estelionato moral”, uma vez que as acusações são construídas com aparência jurídica para incriminar representantes dos trabalhadores.
“Quem constrói deliberadamente a mentira com a ajuda do advogado, com a ajuda de duas pessoas empregadas, submete as pessoas a servir de instrumento de perseguição”, criticou o engenheiro, que vê na situação uma consequência direta do processo de privatização.
A entrevista revela o clima de insegurança e perseguição que se instalou nas empresas do grupo Eletrobras após a privatização, com impactos diretos sobre a representação sindical e os direitos dos trabalhadores. Segundo Oliveira, apesar do acordo feito entre o governo atual e a Eletrobras, a sociedade está mobilizada e “mais cedo ou mais tarde essa situação vai se reverter”.