Foi com base na segunda lei da termodinâmica que o economista romeno Georgescu-Roegen cunhou a teoria do decrescimento. Ela nasceu na década de 70, no contexto do aumento do consumo dos recursos naturais impulsionado pela Terceira Revolução Industrial, tendo o óbvio como base: em um planeta com recursos naturais finitos, o crescimento constante do consumo, da acumulação de capital e da produção industrial levarão, inevitavelmente, ao esgotamento completo dos recursos naturais do planeta. Seria necessário, então, planejar um decrescimento econômico.
Foi a partir da teoria de Georgescu que Agamenon apresentou sua conferência no colóquio da Universidade de Lille, na França, que marcou os 200 anos do livro de Sadi Carnot que fundou a termodinâmica como disciplina científica. Se nos anos 1970 a teoria do decrescimento causou o ostracismo do economista romeno, hoje, Agamenon propõe, através da crítica à sua obra, dar um passo adiante, fazendo o que Georgescu não fez: questionar o próprio sistema.
“A sustentabilidade não costuma ser diretamente relacionada à segunda lei da termodinâmica, a não ser pelo trabalho de alguns autores que foram perseguidos por isso. Achei que seria um tema importante para o debate. Georgescu propõe um programa político baseado no decrescimento, com a abolição da indústria armamentista, da indústria da moda, entre outras. O problema é que ele foi contaminado pela própria lógica capitalista. Ele aceitou o modelo e é aí que entra a minha divergência”, destaca Agamenon.
Por um novo modelo econômico
Georgescu-Roegen apontou, no início dos anos 1970, que o modelo econômico capitalista não considera a segunda lei da termodinâmica: a degradação da energia e da matéria, a entropia, que estariam diretamente ligadas à atividade econômica que se sustenta na ideia de um crescimento infinito em um mundo finito. Nisso, Georgescu e Agamenon concordam. Mas, para o diretor do Senge RJ, antes de decrescer, é preciso repensar o próprio sistema.
“Pensemos os Estados Unidos da América do Norte. O país tem 4% da população mundial, mas consome 25% da energia produzida no planeta. Ou seja, temos espaço para apenas mais três países como os EUA. É insustentável. O decrescimento seria uma proposta interessante, mas apenas se mudássemos o modelo econômico para algo mais equitativo que, mesmo assim, poderia ter de enfrentar um cenário de esgotamento de recursos. Aí sim, a proposta do decrescimento poderia ser implementada. A questão central da minha apresentação era esta: ao defender a teoria do decrescimento, evitamos questionar o próprio modelo de acumulação capitalista”, defende Agamenon.
O dirigente sindical e acadêmico destaca que a busca pelo crescimento econômico acima da inflação não traz soluções para as necessidades cada vez mais óbvias do planeta: “Não se pode trabalhar cegamente, sem uma visão crítica da sociedade. Quando se fala em crescimento, é preciso fazer perguntas importantes como ‘crescimento para quem? Para produzir o que? Por que?”, explica Agamenon.
No Brasil, desesperança
A participação de um de seus quadros mais antigos em um colóquio internacional poderia ser um momento importante para o Centro de Pesquisa de Energia Elétrica, mas segundo Agamenon, a sensação dos cientistas da casa é de desalento.
“Já não há clima para valorizar esse tipo de coisa.O Cepel está em liquidação. Não há perspectivas de retomada de investimentos públicos e os cortes já fecharam sete laboratórios e demitiram muita gente. Com o plano de demissão consensual que estão preparando, todo o pessoal mais antigo irá sair. Como disse Tom Jobim na época da ditadura, ‘a melhor saída é pelo Galeão’”, finaliza.
Texto: Rodrigo Mariano | Foto: Arquivo