Se ainda hoje o senso comum considera, em certa medida, o domínio tecnológico como sendo masculino, o constante aumento da participação feminina em certas profissões, demonstra que a origem do problema não é natural. As diferenças entre os sexos são construídas em diferentes esferas como a família, a escola e o mercado de trabalho.
No Brasil, no final do século XX, ocorreu um aumento significativo da presença feminina nas universidades. No entanto, este processo não ocorreu de forma homogênea. Foi uma trajetória diferenciada com áreas ou disciplinas com notável concentração de mulheres e, ou múltipla concentração de homens.
Do ponto de vista da ciência e tecnologia, podemos constatar que o viés de gênero ainda se faz fortemente presente. Especialmente, quando analisamos as diversas áreas da engenharia, fenômeno que mostra a masculinização e a feminização da produção do conhecimento científico e tecnológico com reflexo marcante no mercado de trabalho.
É preciso reconhecer que o processo de democratização do ensino superior, de uma forma geral possibilitou um maior ingresso das mulheres na engenharia, e que com as novas segmentações nesse campo por meio do desdobramento de antigas áreas, ocorreram diversificações nas escolhas tanto masculinas como femininas.
Ao observar os dados abaixo, evidencia-se, que a exemplo do Brasil, na Paraíba – em que pese o aumento significativo da presença das mulheres na engenharia – observa-se que ocorre também uma demarcação de área, na medida em que a sua presença em algumas modalidades ainda é muito pequena em detrimento de outras áreas notadamente onde o processo de feminização vem acontecendo.
Dados do Crea-PR de 2012 apontam, que na Paraíba do total de profissionais registrados, o percentual da presença das mulheres nas principais áreas da engenharia corresponde: civil 15,7%, agronomia 12%, elétrica 7,6% , minas 8,3%, alimentos 69,6% e segurança do trabalho 15,9%. Desta forma, observa-se ainda que, ordem de gênero, transversal à engenharia, classifica/reclassifica e hierarquiza as áreas do conhecimento e do trabalho, atividades, atribuições, posições hierárquicas e salários, com valorização diferenciada entre engenheiros e engenheiras.
A boa notícia, em relação a essa realidade, é que o dinamismo das inovações tecnológicas e das forças produtivas estão em permanente desenvolvimento, estimuladas pela crescente demanda da sociedade; aliados à determinação das mulheres em seguir rompendo paradigmas. Este cenário vem se modificando e, em pouco tempo, esta situação deixará de existir.
ALMÉRIA CARNIATO
Coletivo de Mulheres da FISENGE e Rep. do SENGE/PB