ARTIGO: Muito mais que um crachá verde: petroleiros em defesa da Petrobrás

Só com mobilização os petroleiros conseguirão barrar o desmonte da empresa estatal

Por Federação Única dos Petroleiros

Pedro deu duro para entrar na Petrobrás. Investiu anos em sua formação, preparou-se para o concurso público, aguardando ansiosamente o edital e, quando viu o seu nome na lista de aprovados, acreditou que poderia fazer a diferença na empresa.

Os resultados da Petrobrás enchiam Pedro e sua família de orgulho. Sentia-se privilegiado por fazer parte da maior empresa brasileira, responsável por 13% do PIB do país e cujas reservas recém descobertas no Pré-Sal a transformaram em uma das maiores petrolíferas do mundo.

Hoje, quando Pedro olha para trás, chega a duvidar que aquela Petrobrás, que, não faz muito tempo, era o sonho de trabalho dos jovens brasileiros, seja reduzida a uma empresa tão aquém do seu potencial. Ele custa a acreditar que uma companhia com tanta história e altíssima capacidade tecnológica, reconhecida internacionalmente, possa ser conduzida para um caminho sem volta, ao abrir mão de tudo o que conquistou.

Como aceitar que gestores proclamados pelo mercado como salvadores da Petrobrás cortem investimentos fundamentais para o negócio da empresa? Como assistir calado ao fechamento de unidades, à paralisação de projetos, à entrega à concorrência de ativos estratégicos? Como conviver com a demissão em massa de milhares de companheiros terceirizados? E os outros 20 mil que saíram nos PIDVs e cujas vagas não foram repostas? Quem serão os próximos? O que esperar do futuro?

Pedro só tem uma certeza: é preciso reagir e não se deixar vencer pela apatia.

São petroleiros como ele que determinam o destino da Petrobrás. Tem sido assim ao longo destas seis décadas de existência da empresa, com os trabalhadores passando adiante o legado de resistência, de geração para geração. Jovens que, como Pedro, carregam no peito muito mais do que um crachá verde e um projeto de carreira.

Há outros Pedros, no entanto, que atuam na direção inversa, impondo a lógica do mercado para defender o esquartejamento da Petrobrás e tentando fazer os trabalhadores acreditarem que essa é a única saída para a empresa.  Cabe aos petroleiros refletirem sobre que marca deixarão na história da companhia. Com qual Pedro se identificam e querem caminhar juntos? As escolhas que a atual geração fizer serão determinantes para o destino da Petrobrás.

 

Venda de ativos é a “nova-velha” estratégia reducionista

Durante sua história, a Petrobrás se notabilizou por elevada capacidade de ruptura da fronteira tecnológica para, ao longo do tempo, situar-se como uma empresa de petróleo global, altamente competitiva em termos tecnológicos e financeiros. Esse processo só foi possível em função dos gigantescos investimentos em engenharia, tecnologia, geologia e desenvolvimento de novos projetos que fizeram da estatal brasileira pioneira na produção do Pré-Sal em termos globais.

Até a década de 1970, a Petrobrás se caracterizou como uma empresa de petróleo focada no refino e na produção em terra. A partir de então, a atuação da estatal foi direcionada para a descoberta de petróleo no mar – tanto em águas rasas, como profundas, o que demandou grandes investimentos por parte do governo. O objetivo foi reduzir a dependência externa do petróleo e criar condições nacionais para o desenvolvimento de uma indústria articulada de bens de capital e infraestrutura.

Entre 1975 e 1982, os investimentos da Petrobrás cresceram 295,4%, o que possibilitou descobertas importantes de vários campos de petróleo na Bacia de Campos, como Albacora, em 1984, que possuía uma reserva recuperável de 634 milhões de barris.

Com as crises econômicas dos anos 1980 e 1990 e a política neoliberal de fragmentação e redução da companhia, a estatal viu seus investimentos minguarem. Os investimentos em 2002 chegaram a ser inferiores a 1982.  A descoberta de novos campos de petróleo caiu consideravelmente e o parque de refino permaneceu estagnado. Soma-se a isso a redução dos efetivos de trabalhadores, intensificada no governo FHC.

Somente a partir de 2003, a Petrobrás retomou sua trajetória de expansão dos investimentos, contratação de trabalhadores, articulação entre a engenharia nacionais e os segmentos de pesquisa, bem como o desenvolvimento da cadeia industrial associada à produção de petróleo (metalurgia, metal-mecânica, naval, entre outras.). Esse processo culminou em 2007 na descoberta do Pré-Sal, através do campo de Tupi, cujas estimativas iniciais apontaram a existência de uma reserva de até oito bilhões de barris de petróleo.

Na crise financeira internacional de 2008, a Petrobrás desempenhou um papel fundamental para minimizar os efeitos negativos na economia brasileira. Uma das medidas tomadas pelo governo federal foi fortalecer o Plano de Negócios da estatal, ampliando ainda mais seus investimentos no país. Ao contrário das grandes empresas privadas nacionais e multinacionais, que reduziram investimentos e produção, a Petrobrás impulsionou a economia brasileira.

Entre 2003 e 2012, os investimentos da empresa cresceram 378,2%, mas a partir de 2011 começou a enfrentar problemas com a defasagem dos preços dos derivados, declínio da produção dos campos maduros da Bacia de Campos, crise na cadeia de fornecedores, além de dificuldades com a auditoria para publicação de seu balanço após escândalos da Operação Lava-Jato. A crise se acirrou com a campanha de desestabilização do governo, onde a Petrobrás foi utilizada como ponto central dos ataques que culminaram no golpe de Estado que agravou ainda mais a crise política e econômica que o país vive, cuja conta está sendo imposta aos trabalhadores e às classes pobres.

 

O petróleo no centro do golpe

Temer e Pedro Parente vêm cumprindo a pleno vapor a agenda que impulsionou o golpe. Garantiram a operação do Pré-Sal para as grandes multinacionais, que estão também sendo privilegiadas com ativos nobres da Petrobrás. Uma das principais estratégias do desmonte é o rebaixamento dos valores dos ativos da empresa, os chamados impairments.

O objetivo é atrair compradores, despejando no mercado ativos com valores abaixo do preço real. O Complexo Petroquímico de Suape, por exemplo, que tinha seu valor contábil registrado em R$ 4,5 bilhões em 2015, foi reavaliado para R$ 1,6 bilhão e terminou sendo vendido por R$ 1,25 bilhões, em dezembro de 2016. Sofreu uma desvalorização de R$ 3,25 bilhões.

Qualquer especialista sabe que tudo no setor petróleo tem que ser planejado a longo prazo. Vender ativos e reduzir investimentos pensando no curto prazo comprometem a capacidade de gerar receita e caixa no futuro. A redução imposta à Petrobrás vem limitando sua capacidade de atuação no mercado global, condenando-a a um papel secundário na indústria de petróleo.

A vantagem competitiva das empresas do setor está na capacidade de superação da fronteira tecnológica, o que demanda investimentos. Pedro Parente atua na direção oposta, retraindo investimentos, reduzindo o número de trabalhadores e desarticulando os setores industriais nacionais.

Quem ganha com esse desmonte são as empresas estrangeiras. As principais encomendas da Petrobrás voltaram a ser feitas no exterior e até mesmo obras estratégicas, como a do Comperj, foram direcionadas para as multinacionais, mesmo tendo elas em seus currículos processos de corrupção. Qualquer semelhança com o passado não é mera coincidência.

 

Privatizar não é solução

A história da Petrobrás é marcada por superações. Tem sido assim desde a sua criação nos anos 50. Da barreira tecnológica para exploração em águas ultra profundas às crises internacionais do petróleo, a empresa enfrentou várias dificuldades em sua trajetória. Sobreviveu aos mais diversos planos econômicos e resistiu às políticas neoliberais dos anos 80 e 90.

Mais uma vez, a Petrobrás está no olho do furacão. Além da atual crise internacional que derrubou os preços do petróleo, a empresa enfrenta as consequências de uma disputa política que a colocou no centro de um golpe de Estado, articulado para, entre outros objetivos, entregar o Pré-Sal e os ativos nobres da companhia ao capital estrangeiro.

Em todas as grandes crises que a Petrobrás enfrentou, os petroleiros foram determinantes para impedir as tentativas de privatização da empresa. Resistência que, mais do que nunca, se faz necessária agora.  A greve de novembro de 2015 apontou para a sociedade que os trabalhadores têm propostas e alternativas para a recuperação da companhia e que a saída da crise não é através da privatização.

A Pauta pelo Brasil, cujo debate com os gestores da Petrobrás foi garantido na greve, mostrou que é possível superar os problemas financeiros da empresa sem que seja necessário vender ativos ou cortar investimentos estratégicos. A FUP e seus sindicatos apresentaram alternativas para o financiamento da dívida da companhia, de forma a preservar empregos, a integração do Sistema e, assim, retomar a sua função desenvolvimentista.

Algumas das propostas apresentadas chegaram a ser implementadas, como o alongamento da dívida e a realização de acordos de financiamento com estatais chinesas em trocas de barris de petróleo. A Petrobrás, no entanto, continua sendo gerida para atender ao mercado financeiro e às multinacionais. A ordem é cortar investimentos e vender ativos lucrativos a preço de banana para engordar o caixa dos banqueiros.

Só com mobilização os petroleiros conseguirão barrar esse desmonte. A greve de 2015 deu a senha. É chegada a hora da juventude assumir o legado de luta herdado das gerações anteriores e provar que está preparada para embates maiores.

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