ARTIGO – Um conto chinês na Oi

A possível passagem do controle acionário da Oi para a China Telecom, lamentavelmente, vem se juntar a uma coleção de histórias absurdas que permeiam a empresa desde a sua criação.

Por Marcello Miranda – Instituto Telecom

Há um filme argentino chamado “Um conto chinês” no qual o personagem principal, vivido pelo ator Ricardo Darín, coleciona recortes de jornais com histórias absurdas. Pois a possível passagem do controle acionário da Oi para a China Telecom, lamentavelmente, vem se juntar a uma coleção de histórias absurdas que permeiam a empresa desde a sua criação.

a) 1998 – No processo de privatização das telecomunicações o governo FHC fatiou o Sistema Telebrás em 12 empresas. Para disputar a concessão da Tele Norte Leste, depois batizada de Telemar (hoje Oi), o governo montou um grupo para não ganhar a concessão. Pois esse grupo acabou levando 16 estados da Federação com apenas 1% de ágio sobre o valor proposto. Os recursos vieram, em boa parte, dos cofres público

b) 2008 – Quando assumiu o controle da Brasil Telecom, a Oi se comprometeu a investir em pesquisa e na compra de equipamentos nacionais. Nada disso ocorreu. Ciência e tecnologia brasileiras nem de longe estiveram entre as suas prioridades.

c) 2010- Ao estabelecer sua parceria com a Portugal Telecom, a empresa prometeu mais uma vez investir em tecnologia, utilizando a expertise da operadora portuguesa para implementar fibra ótica na última milha. E ainda anunciou a inclusão no cenário internacional, aportando nos países africanos. De novo, nada aconteceu. Foi um fracasso total.

d) 2016 – Com uma dívida de cerca de R$ 65 bilhões, a Oi entra em recuperação judicial no dia 29 de junho. Por 180 dias, a empresa teve a possibilidade de não pagar aos seus credores. Esse prazo foi prorrogado pela Justiça até fevereiro de 2018 ou até a Assembleia Geral de Credores (agora marcada para o dia 10 de novembro).

e) 2017 – No dia 1º de agosto houve uma reunião entre a Anatel e os acionistas da Oi. Naquela ocasião, os representantes da empresa não conseguiram apresentar um plano de recuperação financeira. Foi dado um novo prazo. A Oi apresentou um plano vinculado basicamente à aprovação do PLC 79, ou seja, à doação de recursos públicos. Solução que desde a reunião de 1º de agosto havia sido recusada.

E qual a solução mágica proposta agora? Os representantes da China Telecom dizem que podem investir de R$ 8 a R$ 10 bilhões. Em troca, apresentam duas reivindicações: um prazo largo para iniciar o pagamento das multas da Anatel e, principalmente, a aprovação do PLC 79/16. Este garantiria aos grandes acionistas, incluindo os chineses, uma doação de cerca de R$ 80 bilhões em bens reversíveis. Ou seja, dinheiro público doado ao setor privado. É o verdadeiro negócio da China.

O Instituto Telecom repudia veementemente essa saída. Entendemos que a solução para a Oi não passa por dividi-la entre os atuais incompetentes acionistas com as aves de rapina representadas, nesse momento, pela China Telecom.

Não podemos aceitar mais esse conto chinês.

Instituto Telecom, Terça-feira, 7 de novembro de 2017

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