Fonte: Brasil de Fato
A Câmara dos Deputados não concedeu autorização, na noite desta quarta-feira (2) para que o Supremo Tribunal Federal (STF) receba denúncia por corrupção passiva contra o presidente golpista Michel Temer (PMDB). Apesar da vitória política do governo, entidades e organizações que acompanhavam a votação em Brasília (DF) avaliam que as condições do peemedebista se manter no Executivo se deterioram em relação às próximas denúncias. O elemento central para tal diagnóstico é o desgaste que a base aliada enfrenta perante a opinião pública por defender Temer.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve formular mais duas denúncias contra o presidente em exercício. Há a expectativa de que as possíveis delações de Eduardo Cunha e Rocha Loures apresentem novos elementos a serem investigados e que envolvem o peemedebista.
“Nós fizemos uma pesquisa de opinião junto com o Ibope [Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística] que aponta que 81% dos eleitores querem que a investigação ocorra. Nós recepcionamos os deputados ontem no aeroporto de Brasília distribuindo dinheiro falso. Mobilizamos nossa base, que no Brasil é de cerca de 10 milhões de pessoas, para ligar nos gabinetes, mandar mensagens para os indecisos ou que não responderam”, disse Diego Casaes, coordenador de campanhas da Avaaz, plataforma digital de petições online.
No entanto, Temer conseguiu garantir apoio na Câmara após diversas manobras e liberação de emendas a parlamentares.
Reeleição
Segundo Casaes, o levantamento do Avaaz apontou um grande rechaço do eleitorado em relação aos parlamentares que votassem a favor de Temer. “Francamente, os deputados que hoje votaram contra a abertura da investigação estão se condenando nas eleições de 2018. Na mesma pesquisa, mostra-se que 74% dos eleitores irão rejeitar os deputados que barrarem essa denúncia. Nosso papel agora é constranger os deputados e pressioná-los cada vez mais”.
Avaliação similar é a de Igor Felippe Santos, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante do coletivo distrital da Frente Brasil Popular. Para ele, os recursos de que dispõe Temer para enfrentar as próximas peças da PGR devem surtir menos efeito.
“Temer gastou todas as fichas para sobreviver nessa votação de hoje: emendas, cargos, todos instrumentos que ele tinha enquanto governo. Mas ainda há duas denúncias para serem avaliadas. Ele vai ter muita dificuldade para se manter. A tendência é que cresça a indignação da população com manutenção de um governo que retira direitos e está comprometido em casos de corrupção”, disse.
Rodrigo Rodrigues, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores de Brasília (CUT-DF) afirma que as bandeiras das organizações que fazem oposição ao governo devem continuar as mesmas. “Nós continuaremos a fazer a denúncia de que se trata de um governo ilegítimo, golpista e sem nenhuma legitimidade para promover as transformações que está fazendo”, apontou.
“Seguiremos apresentando nossa principal bandeira nesse momento, que são as eleições diretas. O Congresso que está aí também não tem legitimidade para representar os interesses da população em uma eleição indireta. Foi dado um golpe no Brasil e a ordem democrática precisa ser reestabelecida com o voto popular”, complementa.
Santos também destacou a necessidade de que a saída de Temer seja acompanhada de novas eleições, já que a possibilidade de escolha indireta não alteraria o programa imposto pelo atual governo em exercício.
“Os deputados vão voltar para suas bases e a pressão vai crescer. Devemos fazer um processo de mobilização e luta crescente para que a próxima votação no qual ele não tenha condições, para que possamos garantir o afastamento de Temer e eleições diretas”, finalizou.
São Paulo
Em São Paulo, manifestantes se reuniram em frente ao prédio da Secretaria da Presidência, na avenida Paulista, para acompanhar a transmissão da sessão da Câmara. Para João Leite, estudante, o resultado já era esperado. “Já havia uma orientação do governo de comprar o voto dos deputados”, afirmou.
Agora, no entanto, “é importante a gente estar na rua, continuar denunciando esse governo corrupto, principalmente os ataques a população, que agravam muito a situação econômica do país”, diz Leite.
Para Raimundo Bomfim, integrante da Frente Brasil Popular e da Central de Movimentos Populares, “o governo achava que ia dar uma lavada e isso não aconteceu”, disse. “Isso nos dá ânimo para continuar nas ruas mobilizados, exigindo Fora Temer, eleições diretas, que é isso que nós estamos defendendo, e o fim dessas reformas”, completa Bomfim.
Já Elen Ides, que também acompanhava a votação na Câmara em frente à Secretaria da Presidência, apontou que agora, “não teremos outra opção a não ser ir para a rua e fazer barulho”. “Se pelas vias da Justiça nós não estamos conseguindo, nós vamos ter que protestar, ir para às ruas”, comentou.