Pela primeira vez desde 2015, quando teve início a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), o Brasil registrou mais de 100 milhões de trabalhadores ocupados – um aumento de 862 mil no último trimestre -, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados divulgados nesta quinta-feira, 30 de novembro, apontam o recorde de 100,2 milhões de pessoas ocupadas e um recuo de 3,6% no número de desocupados entre agosto e outubro. A taxa de desocupação no período ficou em 7,6%, a menor desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2015. No mesmo período no ano passado, a taxa era 8,3%.
O crescimento na ocupação aconteceu tanto em trabalhos com contratação via CLT, com um aumento de 1,6% de carteiras de trabalho assinadas no trimestre, quanto em trabalhos por conta própria, com 1,3% de aumento. Estão na informalidade 39,1% da população ocupada, somando 39,2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras.
O rendimento também registrou alta de 1,7% em relação ao trimestre encerrado em junho e de 3,9% se comparado ao mesmo período no ano passado. A média estimada é de R$ 2.999. Os empregos de carteira assinada puxam a tendência. “A leitura que podemos fazer é que há um ganho quantitativo, com aumento da população ocupada, e qualitativo, com o aumento de rendimento médio”, destaca Adriana Beriguy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE.
Trabalhadores com ensino superior
Poucos dias antes da publicação da pesquisa do IBGE, o Dieese publicou boletim que aponta que o crescimento da ocupação no país impactou pessoas com ensino superior completo, mas apresenta um cenário preocupante: embora a ocupação entre esses trabalhadores tenha crescido 15% entre 2019 e 2022, metade das vagas ocupadas não condizem com a sua escolaridade.
Esses ocupados com ensino superior estavam, majoritariamente, em vagas administrativas, de atendimento ao cliente, comércio, secretaria, recepcionistas, vendedores em domicílio, agentes imobiliários e condutores de automóveis. Entre os motoristas de aplicativo, 86 mil trabalhadores tinham o ensino superior completo e, entre entregadores de comida, eram cerca de 70 mil pessoas.
O recorte social mostrou ser um marcador importante nesse ponto: trabalhadores de baixa renda ocupam 38,8% de vagas dentro de suas áreas de formação. Já entre os mais ricos, 71,5% estavam em ocupação típica de suas carreiras escolhidas.
“Como se viu, o número de pessoas com ensino superior completo continuou crescendo nos últimos anos, mas parcela considerável não encontrou ocupação compatível com esse nível de escolaridade. A situação se mostrou ainda mais difícil para os brasileiros de baixa renda, que já lutam para ter acesso ao ensino superior e conseguirem se manter durante o período de estudos, época em que boa parte deles precisa trabalhar para auxiliar nas despesas domiciliares ou para pagar uma faculdade privada – quadro que decorre de diversos fatores, como a limitação financeira para abrir consultórios ou escritórios próprios, fazer estágios nas áreas dos cursos (tendo em vista que as bolsas-auxílio pagas são em geral baixas), dificuldade de acesso às melhores universidades etc”, destaca o boletim Emprego em Pauta de novembro.
Com informações da CUT, Dieese e IBGE
Foto: Agência Brasília