Chester Fernandes, companheiro e amigo

Jamais esqueceremos o largo sorriso e o humor sarcástico com que tratava os principais personagens da cena política nacional.

No dia 5 de abril, recebemos a notícia que jamais queríamos ouvir: Chester perdera a batalha. Após quase cinco anos de luta contra um câncer no fígado, que consumira todas as suas energias e tendo passado por um longo sofrimento provocado pelo tratamento, Chester falecera. Sua perda sempre será sentida, mesmo quando o tempo for apagando as velhas lembranças e for deixando esmaecida e meio fora de foco suas fotografias. Jamais esqueceremos o largo sorriso e o humor sarcástico com que tratava os principais personagens da cena política nacional. Da última vez que estivemos juntos, em uma visita a Casa de Saúde S. Vicente de Paula, onde ele estava para um de seus tratamentos, ouvimos suas queixas contra “o lixo de sociedade em que vivemos”.

No começo da década de 1980, quando a ditadura civil-militar dava claros sinais de esgotamento político, por iniciativa de seus próprios empregados, foram sendo criadas diversas Associações de empregados, principalmente nas empresas estatais. No Cepel onde Chester trabalhava, a ASEC (Associação dos Empregados do Cepel) foi criada em 1983 e ele foi seu primeiro presidente. As dificuldades em conduzir um trabalho de natureza política naquela época eram imensas, principalmente pela desmobilização e pelo medo de represálias por parte do aparelho repressor e dos serviços de inteligência da ditadura, ainda em pleno funcionamento. A ASEC consolidou um importante trabalho no campo das negociações coletivas e passou a ser um forte instrumento de representação dos empregados do Cepel. Sua estrutura também era inovadora. Seu órgão diretivo máximo era o Conselho de representantes, um colegiado constituído por 15 membros eleitos pelos empregados. A presidência e a diretoria eram eleitas por este colegiado.

Ainda na década de 1980, e como um desdobramento de seu trabalho na Asec, Chester foi eleito diretor do SENGE-RJ (Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro), ampliando em muito o espaço de articulação político da Associação. Neste mesmo período foram criadas outras Associações de empregados em empresas do setor elétrico e ele sempre esteve presente na condução de atividades conjuntas entre as Associações, o que dava uma nova configuração as formas de organização dos trabalhadores do setor elétrico.

Como engenheiro do Cepel, é importante ressaltar que Chester foi o coordenador de um importante projeto, sendo um dos principais responsáveis pela introdução no Brasil das chamadas LPNE´s (Linhas de Potência Natural Elevada), que significava aumentar a capacidade de transmitir energia de uma linha de transmissão, mudando sua configuração geométrica. Mesmo no começo da década de 1990 essa tecnologia ainda era em grande parte desconhecida e o Cepel a trouxe da Rússia, através de um programa de intercâmbio sendo ele um de seus principais articuladores e interlocutores com os pesquisadores russos.

Em última homenagem a ele prestada por sua família, por ocasião de seu funeral, com a presença de muitos de seus amigos, sua filha Carolina leu um texto com reminiscências e uma espécie de retrato de família. Chamou muito a atenção a parte do texto na qual, ela Carolina, em uma espécie de entrevista quer saber dele o que ele ainda queria fazer na vida. Ele simplesmente retrucou: “Nada. Já tenho tudo que sempre desejei: uma linda família”. Chester era assim, às vezes imprevisível. Mas sempre o grande companheiro de muitas lutas e um amigo inesquecível como era o título de sua música predileta, tocada ao fim de suas exéquias: unforgettable.

 

Agamenon R. E. Oliveira

Pesquisador do Cepel

Diretor do Senge-RJ

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