Coletivo Nacional dos Eletricitários cobra a “desbolsonarização” da ENBPar

Em reportagem publicada pelo jornal Metrópoles em 09/12, veio à tona a notícia de que o legado do recente período do fascismo no poder persiste na EMBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional). O título da matéria – “Ex-chefe de gabinete de Salles trabalha em estatal do governo Lula” – destaca um dos maiores desafios do atual governo, que acumula conquistas em diferentes setores, mas ainda lida com dificuldades na tarefa fundamental de reverter o aparelhamento ideológico bolsonarista em empresas públicas.

Fabio Eidi Takahashi, ex-chefe de gabinete do ex-ministro de Meio Ambiente do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, ocupa hoje o cargo de Superintendente de Planejamento Econômico-Financeiro e Controladoria da EMBPar.

No boletim unificado de 18/12 do CNE (Coletivo Nacional dos Eletricitários), o movimento endereça três perguntas cruciais para os dirigentes da EMBPar:

1) Como a ENBpar executará as políticas do novo governo, principalmente as voltadas para a universalização da energia para as regiões isoladas, se mantém bolsonaristas à frente dos seus processos e projetos estratégicos?

2) Como será possível reconstruir o Brasil, se agentes que contribuíram para a sua destruição foram mantidos em posições estratégicas no atual governo?

3) Quais foram os critérios utilizados para escolher os guardiões dos cofres e do planejamento financeiro da ENBpar?

Considerando que a EMBPar é uma empresa pública, criada na ocasião do crime de lesa-pátria caracterizado pela privatização da Eletrobras para administrar as empresas que compunham o sistema mas, por força de lei, não poderiam ser vendidas – a Eletronuclear, a INB (Indústria Nucleares do Brasil e a metade brasileira do controle de Itaipú Binacional – os questionamentos do coletivo ganham ainda mais relevância. 

Para o CNE, é difícil, mas necessário, compreender como alguém com o histórico de Fabio Takahashi foi nomeado e, para além disso, qual a estratégia por trás da nomeação de alguém tão desalinhado com os objetivos da administração pública do atual governo.

(Des)alinhamento ideológico

A relevância do cargo ocupado por Fabio Takahashi na EMBPar é incontestável, e, sem dúvida, sua experiência recente deve ter chamado atenção do comitê formado pelo setor de Recursos Humanos e Governança da EMBPar, responsável pelas análises das indicações para cargos nas empresas.

No topo do currículo de Fabio, como experiência mais recente, figura o alto cargo em uma das equipes mais destrutivas do governo fascista, responsável pelo desmonte do Estado e dos órgãos de defesa dos biomas nacionais, da “exploração capitalista” da Amazônia e dos interesses do agronegócio, da mineração, do garimpo ilegal e da invasão de terras indígenas.

Fabio chefiava um gabinete que tinha como cabeça Ricardo Salles, ministro neoliberal que cunhou a famosa frase que se transformou em símbolo da contaminação bolsonarista no setor do meio ambiente: “Temos a oportunidade, enquanto a imprensa está focada na Covid, de ir passando a boiada”.

 

Sob o mesmo ministério, Fabio foi Coordenandor de Projetos do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), responsável pelo planejamento do instituto que, sob Bolsonaro, teve como objetivo destruir as políticas ambientais e colocar em prática os retrocessos necessários, “passando a boiada” para a livre exploração dos recursos naturais brasileiros.

Uma pesquisa mais profunda, realizada pelo CNE, revelou outra informação que ajuda a delinear o caráter do atual superintendente: durante a pandemia da Covid 19, Fabio recebeu o auxílio Emergencial de R$ 600,00 mensais, destinado a pessoas carentes e desempregadas em meio à emergência sanitária.

Os dados ressaltam o desalinhamento ideológico de Fabio com os objetivos da administração pública atual, levantando questões críticas sobre sua nomeação para um cargo estratégico na EMBPar, empresa responsável por gerir setores nucleares e energéticos do país.

Condução ao cargo

Fabio não caiu de paraquedas na EMBPar; sua indicação partiu do diretor Financeiro da empresa, Armando Casado, profissional com extensa carreira no setor energético nacional, tanto em sua fase pública quanto no atual período privado.

Segundo dados da EMBPar e de seu LinkedIn, Casado atua no sistema elétrico desde 2010, quando assumiu como diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Eletrobras, cargo que ocupou até 2019. Em janeiro de 2018, quando Temer assina o projeto que estabelece regras para a privatização da Eletrobras, Casado já era membro do Conselho de Administração da Eletronorte e Eletrosul (2010 a 2019). Também era presidente do Conselho de Administração da Chesf, Furnas, CGTE, Eletronuclear e Eletropar (2010-2019).

No período de 2021 e 2022, foi membro do Conselho de Administração e do Comitê de Estratégia da Eletrobras, privatizada em junho de 2022. No mesmo ano, em fevereiro, quatro meses antes da finalização do processo de venda da empresa, Armando Casado deixa o sistema Eletrobras para ocupar a direção na EMBPar.

Papel social na desbolsonarização

O árduo trabalho de realinhar a administração pública com sua missão de servir aos interesses do povo em detrimento daqueles das empresas vem sendo uma preocupação constante para o governo Lula. No programa de 07/12 do Soberania em Debate, um projeto do movimento SOS Brasil Soberano, do SENGE RJ (Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro), o professor Michel Gherman, do Departamento de Sociologia e de Pós-Graduação em História Social da UFRJ, destacou o tamanho do desafio.

“Estamos vendo hoje o tamanho da contaminação [do fascismo bolsonarista nas instituições]. Acho que até mesmo Lula tomou um susto quando viu o tamanho do problema. O governo está tendo que ‘desbolsonarizar’ estruturas importantes enquanto é obrigado a dialogar com a extrema direita que segue existindo e que mostra que veio para ficar”, aponta o professor.

A cobrança do CNE que, para além da manifestação de repúdio, cobra a imediata exoneração de Fabio Eidi Takahashi, evidencia o papel cruscial da sociedade civil no auxílio à  desbolsonarização do poder público. Como destaca o boletim, “a administração federal é muito grande e nem tudo está sob o controle daqueles que estão no andar superior do governo. Alguns problemas preexistentes passam despercebidos e ficam pipocando na imprensa e nos meios políticos, trazendo por consequência dissabores e desconfortos para o governo Lula”.

Fabio Takahashi, por sua vez, representa uma dessas pendências que precisam ser resolvidas. O boletim do CNE conclui afirmando o óbvio e exigindo que a diretoria da EMBPar não seja omissa: “A presença deste senhor na empresa compromete a credibilidade da mesma enquanto empresa pública do governo Lula. É preciso entender de uma vez por todas, que estamos no governo Lula, que é antagônico ao governo de Jair Bolsonaro, e que, portanto, não tem cabimento a manutenção deste senhor em cargo estratégico da ENBPar. É uma ingenuidade, sem limites, e que pode trazer derrotas e fracassos futuros para a ENBPar e até para o governo Lula”.

 

Clique aqui para ler o boletim unificado do CNE (Coletivo Nacional dos Eletricitários).

 

Texto: Rodrigo Mariano/Senge RJ
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (destaque); Marcello Casal Jr/Agência Brasil; Governo Federal/Divulgação; Valter Campanato/Agência Brasil.
Fonte: Coletivo Nacional dos Eletricitários, EMBPar e LinkedIn

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