O Brasil tinha, no segundo trimestre de 2024, 9,8 milhões de jovens que nem estudam, nem trabalham. Foi para categorizar os que vivem essa realidade que nasceu a expressão “nem-nem”. Por vezes usada para falar de uma geração supostamente desistente, preguiçosa ou sem perspectivas, na realidade, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a expressão engloba jovens que, mesmo sem estudo ou trabalho, não estão ociosos.
De acordo com os dados do IBGE que embasam o Boletim Emprego em Pauta publicado no final de setembro, apenas 7% dos jovens não estão procurando trabalho, lidando com afazeres domésticos – como cuidar da casa, filhos, ou parentes – ou realizando cursos regulares. Destes, só 1,4% afirmaram que não queriam trabalhar. Entre os jovens sem trabalho e fora da escola, 23% haviam procurado emprego no mês em que foram entrevistados pelo IBGE.
Situação transitória
Chama a atenção, ainda, que boa parte do grupo está em idade de transição entre o término do período escolar e a entrada no mercado de trabalho. Justamente por isso, 27% dos jovens considerados “nem-nem” no primeiro trimestre de 2024 já não estavam nessa situação no trimestre seguinte. Segundo dados do ano anterior, 39% dos jovens sem trabalho e fora da escola no segundo trimestre de 2023 haviam mudado de situação um ano depois.
O destino desses jovens profissionais também ajuda a entender o mercado de trabalho ao qual conseguem acessar: a maioria (61,3%) passou a trabalhar informalmente, contra 25,3% que foram absorvidos pelo mercado formal.
“Ficar sem trabalho e fora da escola é, em geral, uma situação transitória ou eventual, e acontece porque os jovens estão mais propensos a aceitar postos de trabalho precários, sem estabilidade e com alta rotatividade de mão de obra. Eles nem trabalham nem estudam por falta de vagas de emprego ou oportunidades para continuar os estudos. Muitos não dispõem de recursos financeiros para estudar e até mesmo para procurar trabalho. Atribuir à juventude a responsabilidade por essa situação é, no mínimo, um equívoco”, afirma o boletim.
Recorte de classe
Em um país profundamente desigual e com alto custo de vida, é previsível que os jovens de classes sociais distintas encontrem cenários diferentes ao buscar a primeira entrada e recolocações no mercado. Os números do IBGE provam o óbvio: as perspectivas de trabalho e acesso às universidades têm estreita relação com a origem socioeconômica. Enquanto os jovens de lares mais ricos costumam ingressar em cursos, os dos domicílios mais pobres costumam buscar trabalho. Entre os egressos do ensino médio em 2023 oriundos de lares mais ricos, 18% ingressaram no ensino superior no ano seguinte. Apenas 7% dos jovens mais pobres fizeram o mesmo.
O Dieese aponta que medidas como o aumento de vagas em cursos profissionalizantes não são suficientes, uma vez que o mercado de trabalho vem se mostrando incapaz de absorver a mão de obra especializada. As novas formas de contratação trazidas pela Reforma Trabalhista também não renderam os efeitos prometidos: ao criarem vagas de curta duração, passaram a jogar os jovens em situação de contínuo desemprego.
“A solução para esse problema está no crescimento da atividade econômica e na valorização de políticas públicas de emprego e educação adequadas à realidade dessa população, de modo a lhes assegurar o acesso e a permanência na escola e a possibilidade de ingresso em postos de trabalho formais e estáveis”, aponta o boletim.
Redução nos países da OCDE
Dados do relatório internacional Education at a Glance (EaG) 2024, divulgado em setembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostram uma redução de jovens que não estudam nem seguem em formação (NEET). Segundo o estudo, graças a mercados fortes e participação crescente na educação, houve uma redução no percentual de jovens entre 18 e 24 anos que não trabalham, nem estudam na maioria dois países membros.
Segundo os dados, a taxa média de NEET passou de 15,8% em 2016 para 13,8% em 2023. No Brasil, o recuo foi menor, mas também foi registrado, de 29,4% para 24% no mesmo período. O relatório também mostra redução de jovens adultos sem qualificação secundária superior – o equivalente ao ensino médio – em 28 dos 35 países membros. No Brasil, o percentual de pessoas de 25 a 34 anos que não concluíram o ensino médio diminuiu 8 pontos percentuais de 2016 a 2023. No Brasil, 27% de jovens permanecem sem essa formação. A porcentagem está acima da média da OCDE, que é 14%.
Edição: Rodrigo Mariano/Senge RJ, com Informações do Dieese e Agência Brasil | Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília