Estudantes de engenharia, cotistas e periféricos, ganham curso de reforço em cálculo, promovido pelo Senge-RJ e Coletivo Força Motriz

Em articulação do Senge RJ e Coletivo Força Motriz com parceiros como o Clube de Engenharia, Mútua, Escola Politécnica e Centro de Tecnologia da UFRJ, estudantes de engenharia enfrentam não só a disciplina de Cálculo, mas também o racismo e a desigualdade social.

Os cursos de engenharia em faculdades de todo o Brasil refletem a realidade social do país. São elitistas e racistas. Têm perfil branco e de classe média e alta, legado de uma educação de base falha e igualmente preconceituosa. As políticas de cotas garantiram o acesso de jovens negros e periféricos à academia, mas não garantem, sozinhas, a mudançal no perfil daqueles que chegam ao fim da jornada e saem formados. Não é coincidência que sejam exatamente os mais vulneráveis os que ficam pelo caminho.

O problema não é novo e já foi amplamente debatido entre profissionais, educadores, especialistas e gestores públicos, mas faltam ações concretas. Então, os próprios alunos de graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ decidiram agir. Em uma parceria com o Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro – Senge RJ, eles criaram o Curso de Cálculo André Rebouças, com foco em alunos negros e cotistas, para um primeiro passo na longa caminhada pela inclusão: enfrentar a disciplina de Cálculo, que chega a reprovar 80% dos estudantes e colabora com a grande evasão nos primeiros anos dos cursos.

Com mais sete turmas e cerca de 200 alunos apoiados até setembro de 2023, o curso acontece na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e, embora o foco sejam alunos negros e cotistas, as aulas ministradas por mestrandos e doutorandos da própria UFRJ são abertas a todos e também recebem estudantes de outras universidades públicas e privadas e universitários de outros cursos, como economia e física.

Mudança de perfil do engenheiro

O ínfimo número de engenheiros e engenheiras negras registrados/as no Conselho Regional de Engenharia CREA-RJ aponta a gravidade do problema. Isso acontece porque os cursos de engenharia são historicamente pensados para alunos de classe média e alta, não para estudantes com dificuldades socioeconômicas.

O Senge RJ e o Coletivo Força Motriz entendem que para mudar o perfil do engenheiro, é preciso começar pelas universidades, mudando o perfil do estudante de engenharia. Buscam, juntos, criar ferramentas práticas para alcançar um objetivo há muito tempo perseguido por engenheiros progressistas: aproximar a engenharia da classe trabalhadora, não só como um serviço acessível, mas também como profissão.

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