Considerações sobre a cor vermelha em bandeiras e na história do Brasil | Henrique Luduvice

Por Henrique Luduvice*

 

Em recente artigo, destacamos a presença da cor vermelha nas bandeiras da maioria dos países nos diversos continentes do Planeta Terra. Enfatizamos, ainda, o real significado dessas escolhas e inclinações, muitas delas vinculadas a renhidas disputas, às vezes longas e sangrentas, em busca da libertação e independência. Mas, há situações em que a referida coloração foi selecionada por aspectos específicos, cenários, vegetações ou minerais encontrados nas respectivas naturezas ou mesmo em símbolos de antigos colonizadores.

O Brasil foi, segundo a nossa história, descoberto por Portugal no ano de 1500, em um período que a Europa se expandia na procura por novas riquezas, territórios e horizontes. Embora já habitado por significativos contingentes de povos originários, iniciou-se, nesta época, uma colonização pautada em influências e valores daqueles que desembarcaram de suas caravelas e provinham de um continente com civilizações mais avançadas em inúmeros contextos.

Portanto, resta incontestável que as primeiras bandeiras que identificavam o Brasil, em sua fase colonial, refletiam as sucessivas casas imperiais portuguesas. Sempre que assumia um novo monarca no país dominante, suas insígnias de espraiavam pelos povos conquistados. Assim acontecia nas múltiplas terras desbravadas pelas nações europeias.

As inquestionáveis contribuições de Portugal ao Brasil, ao longo dos séculos seguintes, se manifestaram em imensuráveis áreas. Posteriormente, também a Espanha, França, Holanda e Inglaterra, em diferentes graus, se fizeram presentes durante a fase colonial deste País, legando colaborações para a formação das estruturas, principalmente regionais, aqui estabelecidas. Mais recentemente, grupos de imigrantes europeus atraídos por governos brasileiros e os EUA assumiram protagonismo nessa conjuntura.

Faz-se interessante salientar que todas essas Nações possuem diversificados matizes de vermelho em suas pendões e flâmulas, o que, naturalmente, se refletiu nos pavilhões que expressam a imagem de importantes Estados brasileiros e suas Capitais, bem como nos símbolos e marcas de expressivo número de Municípios e, até mesmo, de Instituições Culturais e Desportivas.

Examinando-se, acuradamente, as vinte e sete unidades da Federação brasileira, percebe-se que treze delas (Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Pernambuco, Maranhão, Pará, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo e Santa Catarina) ostentam o colorado em suas bandeiras, enquanto uma, o Espírito Santo, exibe o rosa, tonalidade próxima.

Dentre as Capitais dos Estados conclui-se, em rápida pesquisa, que dezenove adotam o encarnado em seus pavilhões, a saber: Aracaju, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Macapá, Maceió, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo, Teresina e Vitória.

Em termos de esporte, verifica-se que o vermelho está presente nos anéis olímpicos e em incontáveis uniformes ou indumentárias de delegações, seleções e equipes de infinitas modalidades dos mais distintos locais, regiões ou nacionalidades. Em alguns casos, reproduzindo total ou parcialmente as cores estampadas nos símbolos dos Países, Estados ou Municípios.

A esta altura, impõe-se realçar que o brado exacerbado em determinadas manifestações públicas de que a nossa bandeira jamais será vermelha demonstra, portanto, um misto de ignorância ou desconhecimento sobre as incalculáveis aparições da mencionada coloração em numerosas situações ou circunstâncias do cotidiano da Nação.

Afinal, as bandeiras de relevantes Estados, Cidades, Escolas, Clubes ou mesmo de simples Agremiações adotam esta cor e seus concidadãos ou adeptos as envergam com substancial orgulho, sem, necessariamente, quaisquer conotações políticas ou ideológicas.

Os exemplos são muitos: alguém, por exemplo, poderia imaginar o Flamengo ou o Milan, em seus espetáculos, sem as épicas camisas e bandeiras rubro-negras? Ou o Manchester United, Bayern, São Paulo, Barcelona, Internacional e Benfica sem suas cores tradicionais? Ou então, o Corinthians sem a âncora e o Vasco sem a cruz de malta tingidas de vermelho? E o Atlético de Madrid, o Bahia, o Liverpool e o Sergipe? O que dizer do Roma, Fortaleza, Náutico, Sport e Paris Saint Germain? Quantas instituições em nosso País e ao redor do mundo? Na Arte? Música? Teatro? Escolas de Samba? Impossível, certamente, especificar.

Por fim, ressalte-se que este Artigo pretende contribuir para que a aceitação das diferenças de entendimentos sobre os mais variados temas, seja considerado algo natural. Propõe-se, inclusive, a colaborar para uma certa racionalização e democratização dos debates, sempre em elevado nível, nos inestimáveis fóruns, assim como, no âmbito das famílias e da sociedade brasileira.

 

*Henrique Luduvice, engenheiro civil, ex-presidente do Crea-DF e ex-presidente do Confea
Foto: Unsplash

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