A Cooperbarco, cooperativa dos barqueiros que fazem a travessia na Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), e a Lamarca Engenharia apresentaram a potenciais patrocinadores, na última sexta-feira (15), o projeto de uma embarcação movida a energia elétrica. O Projeto Carapeva, batizado com o nome de um peixe da região, não emite nada de carbono. Se a embarcação operar o ano inteiro, navegando diariamente, serão 155 toneladas/ano de carbono que deixarão de ser jogadas na atmosfera, em comparação aos barcos atuais que trabalham na lagoa, compara o engenheiro Sérgio Lamarca Leite, responsável pela elaboração e pelo desenvolvimento do projeto.
O objetivo dos barqueiros e do engenheiro é captar o investimento necessário, da ordem de R$ 900 mil, para fazer um protótipo. O modelo terá capacidade para 50 passageiros e tecnologias inovadoras, funcionando como referência para políticas públicas de transporte. Com isso, a ilha poderia ser o primeiro lugar do país a ter um barco elétrico.
A prova de conceito envolve uma cadeia de fabricantes nacionais e recursos novos para os usuários do serviço da Cooperbarco, como banheiros (não disponíveis nos barcos atuais), acesso para cadeirantes, lugar para bicicletas, assentos especiais para passageiros com sobrepeso, tudo de acordo com princípios de sustentabilidade ambiental, social, econômica, com materiais recicláveis, baixo ruído e sem vibração.
“Em cinco anos, o projeto se paga, apenas com o que se deixa de comprar de combustível, ou seja, de diesel”, afirma Lamarca, engenheiro mecânico há 34 anos, com pós-graduação em Engenharia de Produção e em Engenharia Naval e Offshore, que já dirigiu empresas em Recife, Manaus, Rio de Janeiro. Ele estima seis meses de prazo para a construção da embarcação modelo – sendo metade para a fase de engenharia e metade para produção. Um mês seria, ainda, dedicado a teste exaustivo, navegando com chuva, sol, vento, bateria arriada, todas as condições adversas.
Além do motor elétrico, o Projeto Carapeva Net Zero prevê um casco com linhas hidrodinâmicas de alta eficiência, otimizado com o uso de Computational Fluid Dynamics (CFD), uma simulação numérica de todos os processo físico-químicos de escoamento, e polietileno de alta densidade – material reciclável, que dispensa tinta e é fabricado por fornecedor local. Placas solares permitirão carregar parte do banco de baterias durante o trajeto do barco na água. Nos terminais, enquanto os passageiros embarcam ou desembarcam, uma tomada como a dos carros elétricos completará a carga, em 15 minutos.
Atualmente, a Cooperbarco tem 28 embarcações, das quais 12 a 15 operam regularmente. A ideia é contar com o protótipo e substituir os motores a diesel da frota, aproveitando a estrutura dos barcos.
Acordo de Paris e oportunidades para a engenharia
Segundo o engenheiro, “todas as embarcações de transporte público deveriam ter esse objetivo, zerar a emissão de gases, fomentar uma cadeia local de fornecimento e de negócios e gerar empregos”. Ele destaca a importância das novas tecnologias limpas, especialmente para a engenharia.
“As empresas têm reduzido seus departamentos de engenharia, com grande automação de processos, mas um compromisso efetivo com as metas climáticas traria muito campo de trabalho”, avalia. “O Pacto Global baseado no Acordo de Paris prevê redução de 50% das emissões em 2030, e neutralidade de carbono em 2050. Alinhada a essas metas, o Net Zero Shipping é uma iniciativa internacional na área de navegação para atender a esse cronograma. No transporte mundial, em 2100, não haverá mais carbono. Depois da posse de Joe Biden no governo dos EUA, estamos vendo bancos estrangeiros financiando muito mais projetos de zero emissão, ou net zero, do que de combustível fóssil.”
Nesse cenário, Lamarca acredita que o combustível do futuro será o hidrogênio, produzido por meio dos excedentes da geração hidráulica ou eólica, e usado para ampliar a autonomia dos carros elétricos. “Como atualmente temos o gás natural, usaremos uma célula de hidrogênio”, explica.
“Temos 50 mil engenheiros trabalhando em condições de grande precariedade”, lamenta. “É preciso inovar para dar um upgrade na carreira, na profissão, para, no mínimo, ficar em paridade com outros países, inclusive a nível de conhecimento. Isso está adormecido no Brasil, uma oportunidade tecnológica que vai exigir dos engenheiros uma posição.”
Clique no link ou na imagem abaixo para ver a apresentação completa do Projeto Carapeva – Embarcação de Emissão Zero
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