Cresce a procura por extensão universitária voltada a projetos de engenharia popular

As atividades desenvolvidas na comunidade da Barreira do Vasco, pelo Coletivo Força Motriz, de estudantes de engenharia da UFRJ, transformaram-se no Núcleo de Assessoria Técnica Popular (Natep), da Escola Politécnica.

Dentro e fora das universidades, ganha força um perfil de engenheiro com maior engajamento e preocupação social, interessado em aplicar seus conhecimentos à solução de demandas e necessidades populares. Para a professora Luciana Corrêa do Lago, do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (Nides-UFRJ), a democratização do acesso à universidade pública – hoje, ela estima que cerca de 30% dos 70 mil alunos da UFRJ seriam de baixa renda –, trouxe novas abordagens à sala de aula e às pesquisas. E o espaço onde esse movimento acontece de forma mais vibrante são os programas de extensão  universitária.

Foi de uma articulação potente nesse sentido que nasceu, em 2019, o Núcleo de Assessoria Técnica Popular (Natep), dentro da Escola Politécnica da UFRJ, que reúne atualmente 37 alunos, dos quais 30 engenheiros e os demais de cursos como Arquitetura e Letras.  Está na Poli mas seus projetos de extensão universitária, envolvendo diferentes tipos de assessoria técnica, são abertos a todos os cursos, explica a coordenadora do Natep, Adriana .

A base do Natep/UFRJ foi o projeto de apoio à comunidade da Barreira do Vasco, desenvolvido pelo Coletivo Força Motriz, criado por alunos de engenharia da UFRJ, que defendem  uma “engenharia popular”. Na comunidade, eles ajudaram a criar horta, a montar um curso pré-vestibular comunitário, uma biblioteca. Agora, diz Adriana, a metodologia deve ser levada para a Rocinha.

Segundo ela, é cada vez maior a vontade de atuar com com questões concretas das populações. “Anteriormente, não havia tanto essa preocupação. Agora, os alunos têm necessidade de dar um retorno para a sociedade, devolver o investimento público feito no seu conhecimento, inclusive capacitando tecnicamente as pessoas que estão nas comunidades.”

Integrante do Coletivo Força Motriz, das Brigadas Populares e do Núcleo Estudante do Senge RJ, Pedro Enrique Monforte está se formando em Engenharia de Materiais e lembra que foi apenas ao descobrir a possibilidade de exercer uma engenharia popular que o curso passou a fazer sentido para ele. “Para que serve a engenharia? O que ela pode representar para o povo brasileiro? Essa é a nossa verdadeira disputa, a mudança para uma nova engenharia.”

A extensão universitária, na avaliação dele, deveria ser o objetivo fundamental da universidade. “As universidades podem ter um papel fundamental na solução de problemas.  Mas, na prática, as faculdades de Engenharia têm sido orientadas a gerar profissionais despolitizados, sem a menor compreensão do seu papel e compromisso social. Não é barato formar um engenheiro e os alunos têm que se comprometer a dar esse retorno. Aí é que entra a extensão.”

Coordenadora do pré-vestibular comunitário da Barreira do Vasco, também pelo Natep/UFRJ e pelo Coletivo Força Motriz, Letícia Pinheiro concorda que muitos alunos não têm noção do seu papel. “A faculdade aliena bastante os estudantes, que não sabem para o que estão estudando. Apenas para ganhar dinheiro?”, questiona.  “Se  você não sabe como seu trabalho está contribuindo com a  sociedade, para o que está servindo, você vai ser usado por outra pessoa que sabe; será uma mão de obra qualificada, mas sendo manipulada por outros interesses.”

Assista no link abaixo o debate no Senge RJ com Letícia Pinheiro e Pedro Enrique Monforte, do Coletivo Força Motriz, e com o diretor do Senge RJ, Felipe Araújo

https://www.youtube.com/watch?v=nzwnx0xiNio
Foto: horta comunitária na Barreira do Vasco/divulgação Coletivo Força Motriz/Brigadas Populares

Pular para o conteúdo