O Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro e o Coletivo Força Motriz estão em processo de articulação com parceiros para mais uma fase do projeto de formação educacional e política iniciado com a criação do Curso de Cálculo André Rebouças para alunos cotistas e periféricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
A ideia é selecionar entre os alunos do curso, a cada semestre, aqueles e aquelas que integrarão um programa de assistência ao estudante de engenharia. Além das aulas do curso, dos aulões de revisão e aulas magnas já oferecidos pelo curso, estes estudantes receberão um auxílio mais robusto: serão acompanhados ao longo do programa com apoio pedagógico em diferentes disciplinas, suporte psicológico e financeiro e uma formação complementar, com ações de aproximação com as entidades da engenharia, como o Senge RJ e os parceiros Clube de Engenharia e Crea RJ.
“Estamos em momento de articulação entre o Senge RJ e Coletivo Força Motriz e a Escola Politécnica e Centro de Tecnologia da UFRJ, que já são parceiros no Curso André Rebouças. O debate sobre o racismo nos cursos de engenharia está colocado e queremos ir além: vamos construir uma ferramenta para atacar diretamente o problema para, aos poucos, mudar o perfil da engenheira e do engenheiro”, destaca Pedro Monforte, diretor do Senge RJ.
Mudando mentes para mudar a realidade
Monforte destaca que a criação de um programa estudantil a partir das experiências do Curso André Rebouças tem como objetivo aprofundar ainda mais o debate sobre o racismo nas engenharias. Juntos, o curso – que seguirá oferecendo aulas regulares e aulões de revisão – e o novo programa avançarão na denúncia de um ensino pouco democrático e pensado para atender um perfil que exclui grande parte da classe trabalhadora, mantendo a engenharia, não só como serviço, mas também como profissão, fora de seu alcance.
“Nós percebemos na UFRJ como a existência do curso e das aulas inaugurais mudaram a cultura e a cabeça das pessoas. Sempre existiu essa contradição dentro da engenharia: taxas de reprovação aberrantes eram vistas como normais. Era comum escutar coisas como ‘Se facilitasse, todo mundo ia passar’. Difícil era alguém perceber o quão racista e excludente é essa afirmação. Hoje a gente já vê pessoas afirmando que todos os alunos precisam ser capazes de alcançar a aprovação e que se isso ainda não mudou, não se está fazendo o trabalho que deveria ser feito”, ressalta, Pedro.