Fonte: André Accarini/CUT
A batalha que a CUT, centrais sindicais, movimentos populares e setor empresarial vêm travando contra a alta taxa básica de juros do Banco Central, a Selic, será reforçada a partir desta sexta-feira (16) quando terá inicio uma Jornada de Mobilização contra a Política Monetária do BC, que insiste, por influência direta de Roberto Campos Neto, presidente da instituição, em maner a Selic em 13,75% sob o argumento falacioso de conter a inflação.
A ação que já está nas redes sociais (veja vídeo aqui) será feita também nas ruas, com atos tanto no dia 16, primeiro dia da Jornada, quanto no dia 20, data em que o Comitê de Política Monetário do Banco Central (Copom) se reúne para definir qual será a taxa de juros referencial praticada no país.
Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, portanto, da herança maldita deixada pelo governo anterior, Campos Neto ignora todo o esforço e trabalho exitoso que vem sendo feito pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que tem, mês a mês, conseguido reduzir os índices inflacionários. O IPCA, que mede a inflação oficial, no mês de maio ficou em 0,23%, índice menor que os 0,61% de abril e que soma 3,94 % em 12 meses. É o menor em três anos.
O resultado desta política nefasta é diretamente sentido pela população brasileira. Em três pontos fundamentais, pode-se desenhar qual é o tamanho do estrago causado à classe trabalhadora – e também a empresas – por aquilo que o movimento sindical e movimentos populares consideram um boicote ao governo Lula.
Aumentam as dívidas dos brasileiros
Quem tem dívidas a pagar é penalizado com o abuso de cobrança de juros, já que a Selic é taxa de referência para o sistema financeiro. Ou seja, quanto mais alta a taxa definida pelo Banco Central, mais as instituições financeiras aumentarão os juros praticados em linhas de crédito, como financiamentos, empréstimos, cartão de crédito, até mesmo as prestações da casa própria.
Com isso o nível de endividamento, que já bateu recorde em 2022, tende a aumentar ainda mais. Os brasileiros não estão conseguindo pagar suas contas e continuarão tendo dificuldades caso a taxa não baixe. Para a economia, a consequência é menos dinheiro para o consumo, menos produção e menos empregos.
Renegociações impraticáveis
O parcelamento de dívidas, com jutos altos, se torna inviável aos brasileiros e brasileiras, cuja renda já é apertada para o orçamento doméstico e as necessidades básicas, como a saúde, por exemplo. Se o brasileiro tem uma dívida e tenta renegociar, quitar suas dívidas e sair da inadimplência, acaba se deparando com taxas exorbitantes. Os juros acabam ficando tão caros como se fosse uma promoção às avessas – “compre um e pague dois”.
Em muitos casos, apenas os juros cobrados podem chegar a mais de 50% do valor do bem comprado ou do valor renegociado. E, neste caso, se torna uma bola de neve, uma dívida sem fim em que a solução são parcelas em um ‘sem número’ de vezes.
Desemprego
Como já citado, se não há emprego, não há renda e sem renda, o trabalhador deixa de comprar. Com a produção encalhada, a solução que empresas encontram é deixar de produzir, demitir trabalhadores e muitas até mesmo fecham as portas. Desta forma a economia não roda e o país acaba caminhando para a recessão.
Recentemente, uma das mais conceituadas empresárias do país, a presidente do Magalu, Luiza Trajano, fez um apelo a Campos Neto para baixar a taxa de juros, lembrando a ele que muitas empresas já foram extintas e que o setor não ‘suporta mais’ essa política monetária.
Mobilização
“Com juros assim, o Brasil para”. É com esse protesto que a CUT, centrais sindicais e movimentos populares articulam a mobilização para os próximos dias. Nas redes sociais, as hashtag #JurosBaixosJá e #ForaCamposNeto deverão ser utilizadas nas postagens como instrumento de pressão.
Na segunda-feira (19), será realizado um grande tuitaço envolvendo não somente o movimento sindical e movimentos populares, mas toda a sociedade, como forma de dizer a Campos Neto que o país não aguenta mais a taxa de juros em 13,75%, a mais alta do mundo.
A jornada, que terá início nesta sexta-feira com uma grande caminhada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), prosseguirá ao longo dos dias com mais protestos de rua e em locais de trabalho, além de distribuição de panfletos explicativos sobre os efeitos nocivos dos juros altos para o Brasil e para os trabalhadores.
No dia 20, em São Paulo, na sede do BC, localizada na Avenida Paulista, onde será realizada a reunião do Copom, haverá manifestação a partir das 10h. Em cidades pelo país onde o BC possui sede, também serão realizados atos. Em localidades em que não há sedes, os protestos serão feitos nos locais de grande circulação a serem definidos nos próximos dias.
A jornada prossegue até o dia 2 de julho, no entanto a mobilização é permanente até que essa política seja revista.
Banco Central independente
O Banco Central se tornou independente do governo federal por causa de uma decisão de Bolsonaro, com aval e aprovação do Congresso Nacional em 2021. Por isso, o atual governo, não tem gerência sobre as decisões da instituição.
Roberto Campos Neto se mantém intransigente e sem atentar para a nova realidade do país e para as ações positivas do governo Lula que têm baixado a inflação. Portanto, para a CUT, centrais e para os movimentos populares, não há nenhuma justificativa para penalizar o Brasil mantendo a taxa em 13,75%
Próxima reunião do Copom
O Relatório Focus, divulgado todas as segundas-feiras pelo Banco Central (BC), indicou na publicação da semana passada que o Comitê de Política Monetária deverá manter a taxa básica de juros no patamar de 13,75%, tanto na próxima reunião, que acontece nos dias 20 e 21 de junho, como na reunião do mês agosto. O Copom se reúne a cada 45 dias para avaliar a politica econômica.
Em encontro com empresários, nesta segunda-feira (12), Campos Neto afirmou que possiblidade de queda dos juros é ‘lá na frente’, condicionando mais uma vez o comportamento da economia à redução e ignorando as quedas da inflação percebidas nos últimos meses.
O indicativo de o BC se manterá intransigente reforça a mobilização a ser feita pela sociedade – trabalhadores, entidades sindicais, movimentos populares e setor produtivo – para que Campos Neto ouça as reivindicações daqueles que realmente trabalham pelo Brasil e baixe a taxa de juros.