DEBATE ACALORADO NA EXIBIÇÃO DO FILME
PRIVATIZAÇÕES – A DISTOPIA DO CAPITAL
Integrando o Ciclo de Debates “O Brasil que você não vê na TV”, o Senge-RJ e a Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) promoveram, dia 22 de outubro, no Museu da República, a exibição do filme Privatizações – A Distopia do Capital . O Museu já se preparava para fechar as portas e o debate aberto ao público continuava acalorado. Participaram do encontro o diretor Silvio Tendler; o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carlos Walter Porto-Gonçalves, autor de A globalização da natureza e a natureza da globalização, entre outros trabalhos na área de geografia social; a economista Ceci Juruá, Doutora em Políticas Públicas pela UERJ, diretora do Fórum 21 e do IBEP- Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e o presidente do Senge-RJ, Olimpio Alves dos Santos.
O atual cenário político nacional estimulou ainda mais o debate. No Senado, está prestes a ser incluído na Ordem do Dia o Projeto de Lei 131, do Senador José Serra (PSDB-SP), que, se aprovado, abre as portas do país às empresas estrangeiras. Na prática, tira do Brasil a propriedade sobre 30% das jazidas do pré-sal, garantida pela Lei da Partilha, além da condição – estratégica para a indústria nacional – de operadora única dos consórcios de exploração das megajazidas de petróleo do pré-sal estimadas em mais de 10 trilhões de dólares.
Somando a atual conjuntura à ampla pesquisa realizada sobre a onda privatista dos anos 90 que o documentário de Silvio Tendler apresenta, o destaque da noite foi, sem dúvida, a necessidade absoluta de um novo olhar sobre as formas de enfrentar os desafios que se apresentam com a globalização, como declarou Olimpio: “Nós não temos ainda os caminhos da organização para lutar e reagir à financeirização da economia, ao domínio do sistema financeiro nas economias. No dia a dia estamos organizados para reivindicar, mas isso não basta. Enquanto lutamos para ganhar 5%, eles nos tiram a ideia de nação, de país, nos tiram a possibilidade de serviços públicos de qualidade. Esse é o nosso grande problema: como lutar para que nós não venhamos a perder a identidade de brasileiros, a identidade de cidadãos? Não podemos permitir esse caminho de regressão, com os senhores feudais sendo substituídos por senhores acionistas dominando as nossas vidas.”
Resgate da história
Saudando o Senge-RJ por deixar de fazer simplesmente sindicalismo e discutir um projeto de futuro, o professor Carlos Walter percorreu os caminhos que trilhou desde jovem nos embates políticos: “Num determinado momento, no final dos anos 70 e início dos anos 80, me dei conta que entendia a tal da lógica do capital com perfeição, talvez com uma soberba. Mas achava que não entendia nada da lógica daqueles que resistiam ao capital. Parecia que estávamos com a razão teórica, mas sem a razão prática de entender os processos através dos quais as pessoas resistiam ao monstro. Então, no final dos anos 70 e dos anos 80 eu me larguei no mundo para, se errar, errar no lugar certo. O que chamo de lugar certo? Lugar das lutas sociais. Me larguei nos movimentos. E transformei em objeto de estudo na universidade o movimento social”, comemorou.
O resgate da história também marcou a participação da economista Ceci Juruá. “É um filme belíssimo, profundo, que nos deixa muito emocionados. É difícil para quem é da minha geração, ver esse documentário e depois poder raciocinar com certa tranquilidade. A chamada desnacionalização dos últimos anos 25 anos não aconteceu por acaso. Ela foi planejada. Fomos entregues para aqueles que dominam o mundo há muitos séculos. Eles estiveram aqui e têm o Brasil todo mapeado. São ingleses, americanos, alemães, holandeses, belgas… No final do século XVI, ocuparam o Brasil os holandeses. Queriam fazer daqui uma colônia, mas não conseguiram porque foram expulsos pelos portugueses”.
Após comentar o fato de o filme tocar nos problemas nacionais e falar “de uma época que já não falávamos mais e que tem sido muito útil, em especial para a juventude”, Silvio Tendler deu ênfase ao fato de não estarmos tratando de um fenômeno exclusivo do Brasil. “A crise que estamos vivendo, temos visto na Espanha, Portugal, e mais recentemente na Grécia. A gente vê multidões de imigrantes chegando desesperados na Europa e confirmamos que só o sistema financeiro ganha dinheiro hoje”.
Circuito internacional
Produção de outubro de 2014, com 56 minutos, o documentário teve mais de 200 mil visualizações nos três primeiros meses do ano em que foi lançado. Em 2015, já legendado em inglês, francês e espanhol, foi selecionado para festivais na França e Alemanha e a previsão é de larga distribuição para os países da América Latina.
Participam desta verdadeira aula sobre a história recente do Brasil, Pablo Gentili, Marcio Pochmann, Guilherme Estrella, Paulo Vivacqua, Carlos Lessa, Ermínia Maricato, João Pedro Stédile, Luiz Pinguelli Rosa, Maria Inês Dolci, Carlos Vainer, Eloá dos Santos Cruz, Eduardo Fagnani, Ladislau Dowbor, Marcos Dantas e Samuel Pinheiro Guimarães.
Realização do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), com o apoio da CUT Nacional, o filme traz a assinatura da produtora Caliban e a força da filmografia de um dos mais respeitados nomes do cinema brasileiro. A perspectiva, tanto da produtora quanto dos realizadores é promover o debate no Brasil e em outros países como forma de avançar “na construção da consciência política e denunciar as verdades que se escondem por trás dos discursos hegemônicos”, defende Silvio Tendler.
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