Debate frisa importância de união contra os retrocessos

Segunda mesa do I Simpósio SOS Brasil Soberano foi realizada na tarde desta sexta-feira (31)

A segunda mesa do I Simpósio SOS Brasil Soberano, realizado nesta sexta-feira (31), intitulada “Estado, emprego e o setor de serviços”, recebeu o deputado federal Alessandro Molon, o professor Fernando Penna, o deputado federal Glauber Rocha, o jornalista Marcelo Auler e o economista Carlos Lessa. O objetivo deste debate foi discutir a retomada dos programas de prevenção a endemias, educação, saúde das famílias, reflorestamento e demais ações induzidas.

Fernando Penna abriu o debate criticando a reforma do ensino médio. Para ele, o projeto é vendido como a “reforma da escolha”. No entanto, não há garantia de que serão oferecidas todas as opções em todas as escolas e para todos os alunos. Para ilustrar isso, ele mostrou um vídeo do próprio Michel Temer contando que, ao entrar no ensino médio, tinha duas opções: o ensino científico e o clássico. Na cidade em que ele morava só havia o ensino científico e ele acabou de recuperação em física e química. Seus pais, então, pagaram para que ele fosse para a cidade de São Paulo fazer o ensino clássico, com matérias de humanas.

“Essa situação pode se repetir agora com a não obrigatoriedade dos itinerários. Será que todos os alunos terão recursos para se mudar? Não vai haver escolha. Um aluno como ele que não conseguiria estudar química e física provavelmente abandonaria a escola. As escolas particulares de elite vão continuar oferecendo todos os itinerários e isso abre um espaço de segregação. Os alunos que não têm recursos vão estudar numa escola que não tem escolha” afirmou. “É uma reforma que impacta de forma bastante grave. Soberania seria fortalecimento da rede pública especialmente de valorização do professor e garantia da infraestrutura para esse professor atuar.”

 

Molon: “Esse é um dos momentos mais difíceis da história do Brasil”

O deputado federal (REDE-RJ) Alessandro Molon defendeu que não há solução imediata para a crise que o Brasil vive. Ele, no entanto, acredita que o caminho é resistência e a união.

“Estávamos acostumados a garantir avanços. Agora se conseguirmos impedir retrocessos, seremos heróis. Para resistir teremos que ter grandeza e humildade. Em cada luta teremos que buscar os aliados para aquela luta. Teremos que ter capacidade de buscar todos, não apenas quem pensa como nós”, disse.

Ao analisar o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Alessandro Molon defendeu que isso é um reflexo das elites brasileiras. A abolição da escravidão foi considerada pelas elites, na época, com profundo repúdio.

“Foram quatro eleições em que as forças que se opunham a um projeto de nação generoso, solidário, em que o Brasil começou a saudar suas dívidas com aqueles que construíram o país. Eu digo começar porque a desigualdade do Brasil é tão profunda que não conseguiríamos acabar com ela em alguns anos. Isso não se muda de uma hora para outra. São forças ligadas a um projeto de país que é um projeto subalterno, que não acredita na soberania. Esse grupo não aceitou o resultado das eleições de 2014. No dia seguinte às eleições já tinha gente na rua falando de impeachment. E já se começa o movimento pelo impeachment. Ele nasce antes de qualquer coisa de pedalada fiscal. O movimento se aprofunda e encontra um aliado fundamental que chegou à Presidência da Câmara, Eduardo Cunha. Ele bloqueou qualquer possibilidade de recuperação do Brasil. Em janeiro de 2015, a opção do governo foi abraçar o que foi derrotado nas eleições, chamar Joaquim Levy para Ministro da Fazenda, atuando de maneira contrária ao que foi eleito e afastanto a presidenta eleita de sua base. Isso reforçou uma instabilidade política que foi crescendo até abril de 2016”, analisou.

Molon defendeu, por fim, que a aprovação do projeto de terceirização, de 1998, é simbólico. Segundo ele, o objetivo é retomar o que foi parado em 2002, com a primeira eleição de Lula.

“O objetivo é a destruição do estado brasileiro, um programa que foi derrotado em 2014. Não é apenas a pessoa que ocupa o cargo de presidente da República. É uma usurpação de poder total, évenda de terra para estrangeiros. O título desde simpósio é muito feliz, pois é capaz de ampliar o grupo de pessoas”, defendeu.

 

Projeto

Glauber Braga, deputado federal pelo PSOL-RJ, acredita que não se trata apenas de resistir ao programa imposto. É necessário pensar no que será colocado no lugar.

“Primeira coisa é desfazer o que está sendo feito agora. Projeto político novo que deve ser apresentado para a sociedade brasileira, ampliando esse debate para toda a sociedade. Quando uma empresa tem dirigentes denunciados, o dirigente deve ser condenado e julgado, mas o patrimônio deve ser considerado como patrimônio nacional para um projeto nacional”, acredita.

Como Molon, Braga defende a união com setores que possam fazer a resistência com a esqueda. “Tem que trazer pro nosso lado aqueles que possam resistir conosco”, disse.

O jornalista Marcelo Auler citou a importância da mídia nesse processo. Segundo ele, os meios de comunicação não mostram o que está acontecendo com o Brasil. Ele ainda questiona: como se faz comunicação nesse país sem ser através da grande mídia?

“Não tem uma página de jornal falando hoje da ditadura militar num momento que tem um bando de porra loucas gritando pela volta da ditadura”, criticou o jornalista.

 

O que é o Brasil?

Com essa pergunta fundamental, o economista Carlos Lessa encerrou a segunda mesa do I Simpósio SOS Brasil Soberano. Ele destacou que primeiramente é necessário admitir que o Brasil é urbano, pois 84% da população vive nas cidades. Lessa, no entanto, criticou o fato de que o país continua periférico, pois depende de minérios e produtos agropecuários.

O economista frisou também que, mesmo os setores industrializados que se desenvolveram, cresceram com base no endividamento das famílias, como o setor automobilístico.

“Não é apenas um projeto. Existe um espaço espetacular para conciliação e ampliação. Projeto nacional depende primeiramente descobrir que país é o Brasil. Depois disso, a juventude deve ser mobilizada através da utilização de patrimônio público subutilizado. Não é para privatizar, é para utilizar”, defendeu.

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