Demissões garantem ajuste na estatal

Fica claro que grande parte do ajuste será feito com um programa maciço de demissões

Fonte:Valor Econômico – 23/11/2012

 

 

Cláudia Schüffner e Rodrigo Polito

À medida que se conhece a estratégia da Eletrobras para aceitar a proposta do governo para renovar suas concessões, fica claro que grande parte do ajuste operacional da companhia terá que ser feito com um programa maciço de demissões em todas as empresas do grupo a partir de 2013, o que deve ser difícil de colocar em prática. Os efeitos da MP 579 sobre o BNDES também não são desprezíveis. Além de deter 21,74 % do capital total da Eletrobras – que terá uma quebra abrupta da receita – o maior banco de fomento da América Latina tem R$ 24 bilhões em empréstimos contratos e aprovados com a estatal diretamente ou para suas controladas.

Em reunião extraordinária do conselho de administração ontem, a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) não aceitou a proposta de renovação das concessões. O governo de Santa Catarina é o maior acionista da companhia, com 20,2% do capital total, seguido pela Previ (14,5%) e a Eletrobras (10,8%). A Fundação Celesc de Seguridade Social (Celos) tem 3,4%. A Celesc tem 76,1% de ações no mercado. A Cteep já divulgou que não vai aceitar a prorrogação.

O valor de R$ 24 bilhões se refere à participação do grupo Eletrobras em projetos de geração como as hidrelétricas Belo Monte, Jirau, Santo Antonio e Teles Pires, só para citar as maiores usinas em construção no país.

O BNDES informou que do total contratado, apenas R$ 9 bilhões se referem a operações diretas com a Eletrobras expostos ao risco da companhia, que passa a ter geração de caixa próxima a zero se aceitar a renovação das concessões. A maioria dos empréstimos, R$ 15 bilhões, são na modalidade “project finance”, em que o dinheiro é emprestado para uma sociedade de propósito específico que dá como garantias a receita das usinas.

O Valor apurou que apesar da grande exposição à Eletrobras, o banco entende que não existe risco de fato de um “default”. A avaliação do mercado é de que essa tranquilidade se justifica pelo fato de a Eletrobras ser estatal. “Empresa federal não quebra e o BNDES sabe que ela [a Eletrobras] vai pagar”, afirma uma fonte.

Enquanto isso se percebe que as empresas do grupo Eletrobras terão de fazer um enorme programa de demissões para funcionarem como prestadoras de serviços do governo. Furnas terá de demitir quase 70% do seu quadro de funcionários. A empresa já anunciou a demissão de 32% da folha mas precisará de um “esforço adicional” a partir de 2014 para sobreviver à nova realidade de receitas. Já a Eletronorte terá de fazer um corte de pessoal da ordem de 60% até 2020.

A Chesf também vai lançar um programa de desligamento incentivado de seus funcionários. “Esse ajuste de pessoal já era para ter sido feito”, disse o presidente da estatal, João Bosco de Almeida. A empresa precisa reduzir seus custos operacionais em 20%.

Enquanto o governo se mantem irredutível, os acionistas minoritários se organizam para tentar evitar que a Eletrobras aceite a proposta, o que é virtualmente impossível. Até o momento cerca de 60 investidores estrangeiros se inscreveram para participar da AGE que vai acontecer dia 3 de dezembro.

Pular para o conteúdo