Foto: Peter H/Pixabay
Os dados do PIB divulgados no último dia 30 de maio pelo IBGE mostram que o Brasil está basicamente estagnado, em um dos desempenhos mais lentos do mundo. Neste ritmo (queda de 0,2% em relação ao último trimestre de 2018), a economia nacional só retornaria a patamares pré-2015 em 2023, segundo nota produzida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)/CUT. E se o país ainda não entrou tecnicamente em recessão – quando há queda do PIB em dois trimestres consecutivos –, a indústria sim: recuou 0,7% de janeiro a março, depois de cair 0,3% no quarto trimestre de 2018, em relação ao período anterior.
Na comparação com o mesmo período de 2018, houve uma desaceleração de 0,5% do PIB, já que o mesmo dado entre o 1º trimestre de 2018 e 2017 foi de 1,2%. Os números, de acordo com o Dieese, mostram “uma inflexão no desempenho econômico, com uma piora frente a um cenário que já era fraco”. O quadro é descrito como de “provável ‘estagnação’ com risco de se transformar em recessão”. Além do baixo PIB , o país enfrenta falta de confiança dos investidores, inflação persistente – mesmo sem atividade econômica – e, consequentemente, desemprego elevado com avanço da informalidade e precarização do trabalho.
Dentro da indústria, a situação é de “altos estoques, capacidade utilizada baixa e demanda fraca, desestimulando qualquer retomada dos investimentos, ainda mais em um quadro de ausência de qualquer ação de política monetária e permanência de juros reais altos.” A crise na Argentina frustrou as exportações de manufaturados, atingidos ainda pelo enfraquecimento do comércio global. E a recuperação prevista para a construção civil não se confirmou “devido à ausência de investimentos em infraestrutura e estagnação do segmento residencial”, com queda de 2% no trimestre janeiro a março.
O pior desempenho industrial foi na extração mineral, com recuo de 6,3%, atribuído pelo IBGE ao crime ambiental da Vale em Brumadinho. Mas a agropecuária também caiu – 0,5% em relação ao trimestre anterior, “dado o cenário externo desfavorável e de produção estagnada, especialmente no segmento de farelo de soja e açúcar de cana, sendo verificado algum aumento (insuficiente) na soja, celulose e carne de frango”. Segundo a nota do Dieese, o conjunto das perspectivas não deve melhorar, à exceção da pecuária, com aumento de produção e de exportações in natura.
No comércio, continuam os efeitos da precariedade do mercado de trabalho e da estagnação da renda, em um ambiente piorado pelo aumento dos preços de alimentos e combustíveis. O pior desempenho nesta área foi exatamente o de Hipermercados e Supermercados, um indicativo preocupante, segundo o Dieese, por envolver a comercialização de bens essenciais. “Somente atividades com menor participação observaram alguma alta, como comércio de produtos farmacêuticos, perfumaria e materiais para escritório.” O setor de serviços também se encontra em estado semelhante, com piora no segmento de transportes. Outros serviços que apresentaram algum crescimento não têm fôlego, contudo, avalia o Dieese, para contribuir com o avanço da economia.
Pelo lado da demanda, os investimentos do setor público, que poderiam atuar de forma anticíclica, permanecem deteriorados. O dado seria pior, diz a nota, se não houvesse ocorrido o “ajuste” patrimonial das plataformas da Petrobras no decorrer de 2018.
Sinais desanimadores
Entre os vários indicadores da fraca atividade econômica, o Dieese aponta pressões inflacionárias, a política de preços praticada pela Petrobras, dos reajustes de planos de saúde e energia elétrica. “A demanda fraca auxilia que a inflação não tenha comportamento ascendente, mas em caso de qualquer problema de oferta ou câmbio que afete os preços, pode haver um quadro de recessão com inflação”, alerta.
Além disso, a nota destaca a elevada capacidade ociosa na Indústria, com descompasso entre a oferta (que irá andar mais lentamente) e a demanda (mais influenciada pela conjuntura); o mercado de trabalho volátil e se expandindo através do emprego informal e outras formas precárias; lenta recuperação do consumo interno; e arrecadação fiscal inferior em termos reais aos patamares pré-2015, especialmente na arrecadação previdenciária e impostos de consumo, apesar da redução dos déficits primários.
“Sem crescimento econômico, ou haverá majoração de impostos, venda de patrimônio (receitas extraordinárias), ou ainda nova rodada de cortes no orçamento, já que o ajuste pelas receitas regulares será muito difícil nessa conjuntura”, afirma a nota. “O governo trabalha com cenário de ‘travamento’ do Estado como forma de pressão à dificuldade do cumprimento da ‘regra de ouro’ ou mesmo para forçar a aprovação da reforma da Previdência”.
Falta de confiança
Com todos esses elementos e a falta de um projeto nacional de desenvolvimento, cresce em todos os setores a incerteza sobre 2019, influenciando negativamente os gastos privados. Segundo reportagem de O Globo de 7 de maio, o Brasil “deixou de ser um país confiável para o investimento estrangeiro”, saindo do ranking da consultoria A.T.Kearney, que lista os 25 países mais confiáveis, pela primeira vez, desde o início do levantamento, em 1998.
No Brasil não é diferente. Divulgado pelo Ibre/FGV, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu de 93,8 para 91,8 em maio, menor nível desde outubro de 2018. Segundo o boletim Macro Visão (edição nº2635), publicado pelo sistema Ciesp/Fiesp, esta é a quarta leitura consecutiva sem resultados positivos, com queda acumulada de 5,7 pontos no período. Na comparação com maio de 2018, a queda foi de 1,5 ponto. “Importante ressaltar que, ao permanecer abaixo da linha dos 100,0 pontos, o ICE indica pessimismo por parte dos empresários”, registra o boletim.
O cenário de aperto fiscal, a redução do espaço de atuação do BNDES e a ausência de reversão da política monetária, ao lado de um cenário externo desanimador, com revisões para baixo do crescimento de várias economias, expectativas baixas na agropecuária e os fracos indicadores no início do ano “não apontam para um cenário diverso de 2018, muito pelo contrário, de uma acentuação do quadro de desaceleração da economia, que pode se tornar recessão caso o segundo trimestre não seja melhor”, conclui o Dieese. “E há pouca (ou nenhuma) evidência de que isso possa ocorrer, dada insistência do governo federal no ‘austericídio fiscal’ e imobilismo na política monetária. A recuperação aos patamares pré-2015 parecem cada vez mais distantes.”