A entrevista concedida pelo advogado e cientista político Jorge Folena ao programa Giro das Onze, transmitido pela TV 247, girou em torno do colapso da segurança pública no Rio de Janeiro. Durante a conversa, Folena fez duras críticas ao governador Cláudio Castro, a quem atribuiu a responsabilidade direta pelo agravamento da violência no estado.
Segundo Folena, a situação ultrapassou todos os limites de governabilidade: “Há um comprometimento da ordem pública no Rio de Janeiro total pela irresponsabilidade do governador Cláudio Castro e do secretário de segurança dele. Esse comprometimento da ordem pública é motivo para intervenção federal no governo do Rio de Janeiro”, afirmou. O advogado foi categórico ao defender o afastamento imediato do governador: “É caso de intervenção no governo do Rio de Janeiro, porque ele jogou politicamente numa ação fascista, pensada e meditada”.
Para o jurista, as recentes operações policiais na região metropolitana do Rio não têm caráter de enfrentamento ao crime organizado, mas sim de imposição do terror à população. Ele destacou que “2.500 policiais foram empregados para colocar o terror não apenas nas áreas controladas por facções, mas em toda a sociedade fluminense”. Na avaliação de Folena, o episódio mostra que o estado perdeu completamente a capacidade de garantir segurança à população — condição que, segundo ele, justificaria uma intervenção civil decretada pelo governo federal com base no artigo 35, inciso III, da Constituição.
O advogado lembrou ainda que a crise de segurança pública no Rio de Janeiro é histórica e vem se agravando desde meados do século XX. Em sua análise, as elites políticas e econômicas do estado construíram uma política de exclusão social que empurrou os mais pobres para as periferias, criando um ambiente propício ao crescimento do crime organizado e das milícias. “Essa política de limpeza étnica vem desde os anos 1950, quando o Rio ainda era capital do país. O que se vê hoje é o resultado dessa herança perversa”, afirmou.
Folena rebateu o argumento de que a esquerda seria incapaz de enfrentar a criminalidade. Ele recordou o exemplo do governo de Benedita da Silva, em 2002, quando o traficante Elias Maluco, responsável pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, foi preso “sem que um único tiro fosse disparado”. Para ele, “é mentira dizer que a esquerda não sabe lidar com a segurança pública”.
Ao comentar as declarações recentes de Cláudio Castro, o advogado acusou o governador de mentir ao afirmar que pediu ajuda ao governo federal. “Para haver uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, o governador precisa declarar por decreto que suas forças são insuficientes para garantir a segurança da população. Ele não fez isso. Ao contrário, promoveu uma operação política e oportunista, empregando a força policial para espalhar o medo e buscar dividendos eleitorais”, afirmou.
Folena também denunciou o que chama de “aliança entre milícias e estruturas do poder estatal”. Segundo ele, “as milícias privadas são a extensão do próprio Estado. São policiais e ex-policiais que ocupam territórios, cobram impostos da população e controlam economicamente as periferias”. O jurista afirmou que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro é conivente com esse quadro e “não tem condições políticas nem morais de agir”.
Para o entrevistado, o governo federal deve assumir a responsabilidade pela segurança pública e promover uma reestruturação nacional no combate ao crime organizado e às milícias. Ele elogiou a proposta de emenda constitucional apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que amplia o papel da Polícia Federal no enfrentamento à criminalidade, mas criticou governadores de direita, como Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado, por se oporem à iniciativa.
A entrevista terminou com um alerta: “A sociedade do estado do Rio de Janeiro ficou em pânico e medo. Refém, completamente refém. Esse governador não pode continuar no cargo. A Constituição prevê intervenção quando há comprometimento da ordem pública, e é exatamente isso o que está acontecendo.”
As declarações de Jorge Folena expõem a gravidade da crise fluminense e colocam novamente no centro do debate nacional a necessidade — e os limites — de uma intervenção federal no estado, à luz de uma das mais graves tragédias recentes da história do Rio de Janeiro. Assista: