(Foto: Giorgia Prates)
A diversidade no discurso da esquerda foi o ponto principal abordado pelo geógrafo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Walter Porto Gonçalves. Para ele, com a crise civilizatória em que o mundo vive, é necessário fundamentar a luta nas questões raciais, de gênero e de etnia.
“Se os sociólogos europeus não foram capazes de levar em conta essas questões em seus estudos, a realidade da América Latina mostra o quanto isso é necessário.”
Como exemplo, o professor cita a situação dos indígenas no Brasil, país mais indígena da América Latina. “Temos um projeto soberano de Brasil respeitando os povos indígenas? Será que a mais-valia seria a mesma se não fosse o trabalho não-remunerado das mulheres?”, questionou.
Com relação ao processo de desenvolvimento que aconteceu no Brasil desde o lançamento do Plano Real, Carlos Walter criticou a forma e o resultado que o projeto trouxe para as populações mais pobres.
“Vemos o Estado máximo para os bancos e mínimo para o povo. Vemos o Estado abandonar a nação. Ou nós recuperamos a ideia de algo além do capitalismo, o centro da esquerda, ou dependeremos de alianças. E a burguesia brasileira já mostrou de que lado está”, defendeu.
O professor afirmou ainda que, apesar de estar no meio acadêmico, tenta se distanciar apenas do discurso teórico e verdadeiramente dialogar com o mundo. Ele conta que sua inspiração para seguir por esse caminho, na década de 1970, foram as cartas escritas por Karl Marx como resposta para Vera Zasúlich, militante russa que o questionou sobre a falta de análise dos movimentos sociais no “Manifesto do Partido Comunista”, focando apenas nos trabalhadores de fábrica. Ela questionou especialmente os movimentos do campo, área em Zasúlich militava.
“Eu achava que conhecia muito da teoria marxista, mas não tinha o conhecimento de quem resiste ao capital que são as pessoas que verdadeiramente enfrentarão o capital. Foi nesse momento que decidi estudar os movimentos sociais”.