Em meio às quase cinco mil demissões de empregados no grupo Eletrobras depois da privatização da empresa, depois da precarização das condições de trabalho, do adoecimento do mental dos trabalhadores, da piora no clima organizacional e das sucessivas mortes da nossa gente em acidentes fatais nas suas estações de trabalho, as “pessoas da sala de jantar” da direção da Eletrobras preparam uma festa no Rio de Janeiro.
Com toda a pompa e circunstância, vão brindar com os melhores espumantes a nossa morte, as nossas demissões, a nossa desgraça, a nossa falência moral. Esta eletroimbecilidade é a marca da nova cultura da empresa: “de um lado este carnaval, do outro a fome total”. Enquanto isso, acontece mais um grave acidente de trabalho em uma subestação no Pará.
É simplesmente indignante o que aconteceu na Subestação de Guamá, em Belém-PA. Mais um trabalhador pagando com sua saúde e sua vida em risco pelo descaso de uma empresa que só pensa em lucro. O operador, ao cumprir seu dever de garantir o funcionamento de um sistema que serve toda a sociedade, foi vítima de um acidente trágico, resultado direto da negligência e da ganância da gestão da Eletrobrás. Uma explosão que deixou 60% do corpo desse trabalhador queimado, enquanto ele só tentava resolver mais um problema que não deveria sequer ter ocorrido.
E por que isso aconteceu? Porque quem está no comando da Eletrobrás pelo visto não se importa com as pessoas. Enquanto os executivos se empanturram de bônus milionários e fazem festas no Rio de Janeiro para celebrar, cortam técnicos experientes para “reduzir custos”. O trabalhador que fica é obrigado a lidar com equipamentos mal mantidos, sistemas precários e um ambiente de trabalho cada vez mais inseguro. É a ganância no seu estado mais puro: priorizar lucros exorbitantes às custas do sangue, suor e, neste caso, da vida de quem sustenta a operação.
Esse acidente não é um caso isolado. É o reflexo de uma gestão que demitiu profissionais experientes em nome de uma “meritocracia” hipócrita, que só serve para concentrar benefícios no topo enquanto joga os trabalhadores na base à própria sorte. Eles chamam isso de eficiência; nós chamamos de desumanidade.
Enquanto o operador luta pela sua vida em uma UTI de hospital no Pará, nos perguntamos: até quando os trabalhadores vão continuar sendo tratados como números descartáveis? Até quando a ganância vai custar vidas? Esse caso é um grito de alerta para todos nós: precisamos lutar por condições dignas de trabalho, por segurança, por respeito. Porque, no fim, quem paga o preço do descaso não são os donos do capital, são os trabalhadores — como sempre!
Chega ser ridícula a mensagem enviada por e-mail aos nossos empregados pedindo empenho por segurança do trabalho assinada por Ivan Monteiro (presidente) e Vicente Falconi (presidente do Conselho). Só falta agora responsabilizar o trabalhador! Foram vocês da direção da Eletrobras que demitiram em massa, sucatearam e precarizaram a empresa. Assumam a responsabilidade de vocês!
Se querem resolver o problema, não terceirizem a responsabilidade para os trabalhadores. Trabalhem para justificar seus bônus milionários! Comecem primarizando e reestruturando a área de segurança do trabalho. Parem com os treinamentos online, voltem a fazer presencial! Revejam a política destrutiva do técnico de Operação e Manutenção (TOM). É preciso gente com bagagem, experiência. Parem de mudar normativos o tempo todo. Parece um jogo de tentativa e erro. É preciso integrar os centros de operação com o campo. Melhorar a comunicação e a sinergia. E por fim, parem de demitir a memória técnica da empresa. Essa empresa não para em pé!
Nós não temos o que comemorar com vocês nessa “festa estranha, com gente esquisita”! O que vemos por todos os cantos, em todas as bases, são famílias dilaceradas por acidentes e demissões. E isso não pode continuar! A vida e a segurança de um trabalhador, vale muito mais do que qualquer meta de lucro ou bônus corporativo. Não vamos tolerar mais acidentes dilacerando a nossa saúde e sanidade mental! É hora de dar um basta! Chega de vidas perdidas em nome da ganância! Vamos à luta!
Fonte: Boletim CNE de 02 de dezembro de 2024 | Foto: Agência Brasil