Via Fisenge
A engenharia brasileira vive a maior crise de sua história.
Empresas de reconhecida capacidade técnica, com expressiva contribuição em obras e serviços para nossa engenharia, encontram-se paralisadas diante dos processos jurídicos a que estão respondendo.
Os profissionais, em especial seus engenheiros, são demitidos aos milhares, as obras são suspensas, enquanto se espera para ver até que ponto essas empresas serão atingidas pelas acusações da Lava Jato.
Estão interrompidos empreendimentos de porte, alguns já em estágio avançado de execução, como as obras do COMPERJ, Angra III, nosso submarino a propulsão nuclear, a refinaria Abreu e Lima no Nordeste, a transposição do São Francisco e muitos outros.
Os prejuízos já chegam a dezenas de bilhões de reais e o desemprego por milhões de trabalhadores.
Os recursos recuperados com grande alarde, como resultado das corrupções descobertas, são uma fração dos prejuízos causados pela interrupção das obras.
Para onde está o Brasil sendo conduzido? Que país vai sobrar ao final desses processos?
Assiste-se à destruição de nossas maiores empresas de engenharia. Diante dos desmandos que houve nessas empresas, exigimos que os responsáveis por eles sejam processados, e os culpados condenados, mas não aceitamos a destruição das empresas de engenharia e o fim de empregos de nossos engenheiros e demais trabalhadores.
É necessário resistir ao desmonte em curso. Todos os setores da economia para os quais o mercado interno é decisivo devem ser chamados a participar dessa resistência.
No quadro geral do desmonte, nos últimos dias foi noticiado que a Petrobras está convidando apenas empresas estrangeiras para licitação da retomada das obras no COMPERJ, num total de 30 empresas.
O lançamento do COMPERJ há alguns anos abrira muitas oportunidades de trabalho e o otimismo inundou o interior do Estado do Rio.
Houve um deslocamento maciço de empresas e trabalhadores para o entorno de Itaboraí, verdadeiro renascimento da região.
Com os processos da Lava Jato, obras já adiantadas foram paralisadas, empresas ficaram sem serviço, trabalhadores foram demitidos. A região está abandonada e virou um deserto e as obras já realizadas se deterioram.
O que está sendo feito no Brasil com nossas empresas de engenharia não está ocorrendo em outros países.
Quando foi reconhecido que a Volkswagen fraudara dados de poluição de seus carros, foi aplicada altíssima multa, dirigentes da empresa foram demitidos e presos.
Entretanto, nenhum carro deixou de ser produzido e nenhum trabalhador perdeu seu emprego. A Alemanha sabe preservar suas riquezas. A Volkswagen é uma riqueza da Alemanha.
No Brasil o comportamento tem sido o oposto. Prendem-se dirigentes, suspendem-se as obras, impede-se que essas empresas participem de outras licitações e trabalhadores são demitidos aos milhares.
Destrói-se um patrimônio nacional constituído por empresas formadas ao longo de décadas e detentoras de importante acervo tecnológico e equipes de profissionais experientes.
O momento é grave. Para superá-lo é urgente construir uma grande aliança da qual participem os engenheiros, os trabalhadores em geral, as empresas compromissadas com a geração de emprego, o movimento sindical que está sentindo a perda de direitos conquistados desde a década de 1930, além de universidades e centros tecnológicos.
O Clube de Engenharia convoca todas as entidades ligadas à engenharia a participarem da resistência ao processo de sucateamento de nossas empresas, que estão sendo vendidas na bacia das almas, no pico da maior crise em décadas.
A retomada do desenvolvimento precisa se dar fortalecendo as empresas e os profissionais de engenharia, sem que haja perda de direitos há muito conquistados.
Os bancos e demais setores rentistas, que vivem dos elevados juros sobre nossa dívida pública, não podem continuar hegemonizando nossa economia e enfraquecendo o setor produtivo, grande gerador de emprego.
Fonte: Clube de Engenharia (RJ), editorial janeiro/ 2017, sugestão de Carlos Ferreira