Fonte: Senge PE
“Trabalho, Tecnologia e Mudança Climática” foi o tema de um dos debates da Conferência Brasileira de Mudança do Clima, que aconteceu nos dias 6, 7 e 8 de novembro, em Recife (PE). A mesa, coordenada pelo economista e supervisor do Núcleo de Políticas Públicas do Dieese, Nelson Karan, contou com a colaboração do engenheiro sanitarista Clovis Nascimento, presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e diretor do Senge RJ, do sociólogo e consultor Paulo Muçouçah, do secretário Nacional de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, e do representante da Intersindical, Eriston Lima Ferreira.
“Não podemos considerar que o aquecimento global é um fenômeno meramente ambiental, dissociado do desenvolvimento socioeconômico”, afirmou Muçouçah. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), é grande o impacto do aquecimento global no mercado de trabalho. “As atividades que são realizadas ao ar livre, como agricultura e construção civil, são as mais sensíveis ao aquecimento, que as afeta com diminuição de hora de trabalho, além do aumento do risco à saúde e segurança dos trabalhadores. Na agricultura, por exemplo, o cálculo que se faz é que se houver uma elevação de 1,5 graus, a agricultura perde 2,4% das horas de trabalho em todo o mundo.”
Para o sociólogo, é urgente a transição para uma economia de baixo carbono com justiça social, assegurando condições de trabalho decentes. “A transição justa pra uma economia de baixo carbono requer uma tecnologia capaz de criar postos de atividades decentes”, diz. Segundo ele, já existem vários estudos que mostram que a transição pode gerar mais empregos. Atividades de energias renováveis, por exemplo, tendem a empregar muito mais, o que teria um aspecto positivo para a economia brasileira, além de reduzir a emissão do carbono.
“Essa é uma discussão dos trabalhadores, não só de empresas e governos”, alertou Daniel Gaio, da CUT. “Nós precisamos ter uma discussão coletiva para encontrar uma solução efetiva para essa emergência climática global.” Ele considera a transição para a economia de baixo carbono muito importante, mas ressalta que ela precisa incluir nos planos os trabalhadores e a perspectiva social. “Não faz sentido avançar de um lado na transição, e reduzir a justiça social e a qualidade de emprego”, afirmou, observando que, no Brasil, realidade das empresas é que quanto mais limpa a energia, piores são os empregos. “Nas empresas de energia de emissões baixas, encontramos baixa organização sindical, dificuldade de inserção, falta de organização dos trabalhadores e baixa qualidade de emprego.”
Para o presidente da Fisenge, Clovis Nascimento, é urgente a retomada do desenvolvimento brasileiro, o que requer união em defesa da soberania nacional, articulando todos os aspectos relevantes para ela. “Cidade, emprego, poluição, está tudo relacionado”, explica. “Não existe pior poluição do que a fome e a miséria, estamos retornando a essa situação rapidamente, por conta dessas políticas desastrosas que nos estão sendo impostas. O governo atual está destruindo tudo, o Ibama, as entidades de pesquisa, tudo que possa apontar para um avanço.” Clovis defende que a população brasileira se organize para ocupar as ruas e lutar contra todas essas ameaças que formam o projeto governamental. “A Fisenge propõe unidade, propõe a união em defesa da soberania nacional, para que juntos possamos dar uma resposta definitiva, retomando os rumos do desenvolvimento nacional”, concluiu.
O representante da Intersindical, Eriston Ferreira, demonstrou preocupação com as mudanças tecnológicas aparentemente necessárias para a transição para uma economia de baixo carbono. Ele destaca a grande massa de desempregados proveniente da adoção de novas tecnologias. Nesse sentido, acredita na redução da jornada de trabalho como um caminho para a garantia de postos de emprego. “É preciso rever a questão da jornada de trabalho; a sua redução pode ser uma solução, não só para a redução de desemprego, como também para a dignificação do povo brasileiro”, ressaltou.
Como solução para o aumento do desemprego em empresas com tecnologia sustentável, Paulo Mouçuçah aponta como fundamental a formação dos trabalhadores. “É necessário promover um plano de capacitação profissional para empregos verdes – postos de trabalhos decentes que contribuem para melhorar a qualidade ambiental –, que incorpore competências e habilidades adquiridas. Precisamos entender que a formação profissional desempenha um papel chave na transição, formação de profissionais que atendam à exigência desse processo. Infelizmente, não temos profissionais capacitados para atender a essas necessidades.”