Fonte: Jornal Extra
Foto e reportagem: Ana Paula Viana
Na casa de Luiza da Conceição, de 83 anos, o pãozinho esquentado na torradeira e a TV sempre ligada são os principais luxos de uma rotina simples, sustentada pela aposentadoria de R$ 622 que recebe. A vida pacata dela, no bairro de Vigário Geral, só não combina com o histórico de contas que a Light emitiu nos últimos 14 meses: uma montanha-russa que até hoje causa na idosa frio na barriga, ao ver, a cada mês, a fatura chegar pelos Correios.
Após a instalação do novo medidor eletrônico, em outubro de 2011, a conta passou de R$ 91,88 para R$ 602,22. Nos dois meses seguintes, outros sustos: R$ 634,06 e R$ 534,40. Mas a partir de fevereiro, como num passe de mágica, os valores despencaram e voltaram ao normal.
A história de Dona Luiza não é exceção. Nos últimos três meses, o EXTRA acompanhou as contas e a rotina de consumo de 40 famílias. Dessas, 14 apresentaram alta seguida de uma queda brusca, meses depois. As demais, seguem elevadas até hoje.
A Light não dá explicações para tamanha oscilação. Mas entre especialistas ouvidos pelo jornal está claro que houve falhas. E, apesar de o medidor eletrônico ser considerado por muitos, até hoje, o vilão, eles apontam que a instalação feita pela Light é que deve ter causado os erros.
— A equipe pode ter dificuldades de identificar a cabeação de entrada do imóvel e errar — diz o diretor do Sindicato dos Engenheiros do Rio Miguel Sampaio.
Visita técnica em casas
A tese de erro na instalação — com a troca de cabos — é reforçada por depoimentos dos próprios moradores. Nas 14 residências, há relatos sobre a visita de uma equipe especializada da Light pouco antes de as contas caírem.
— Reclamei muito, mas diziam que estava tudo certo. Até que, um dia, a Light veio e revirou tudo. Só aí baixou a conta. Fiquei um mês sem luz. Não tinha como pagar — conta a aposentada Luiza da Conceição, que desde maio paga 40 parcelas mensais de R$ 48,67 para encerrar a dívida herdada do período de contas em disparada.
Professor de engenharia elétrica e diretor acadêmico da Coppe/UFRJ, Edson Watanabe também vê fortes indícios de que haja falhas na instalação dos cabos.
— Basta usar o bom senso. Ao olhar essas contas, é visível que há algo errado, até porque são vários casos. É responsabilidade da Light avaliar essa situação, até porque pode se repetir em outros locais — diz.
Para Miguel Sampaio, do Sindicato dos Engenheiros, a Light deveria ser mais transparente para não comprometer a credibilidade do novo sistema de medição — que deverá encerrar o ano com 318 mil equipamentos instalados no Rio:
— Está claro que houve medições indevidas, acima do consumo real. É preciso reconhecer e consertar.